O juiz Sergio Moro e a força-tarefa da Lava Jato talvez nem tenham se dado conta, mas há muita “matemática” envolvida na operação. As delações premiadas, que são a pedra angular das investigações, podem ser explicadas por meio da teoria dos jogos – um ramo da matemática que busca resolver conflitos entre os interesses individuais e coletivos. E, nesse sentido, a Lava Jato é um pequeno exemplo de como funciona a sociedade e como os problemas coletivos podem ser solucionados.
Basicamente, a teoria dos jogos propõe encarar as pessoas como jogadores que buscam majorar seus ganhos e minorar as perdas. Um dos problemas clássicos da teoria é chamado de “dilema do prisioneiro”. Dois bandidos que cometem juntos um crime são presos. A polícia não tem provas contra eles, mas sabe que são culpados. Como fazer, então, para conseguir as provas?
O dilema do prisioneiro, do ponto de vista estritamente lógico (não moral), é o mesmo de todas as pessoas em suas relações sociais
A solução encontrada pelos investigadores é colocar cada um numa cela diferente e oferecer a eles a liberdade caso delatem o companheiro. Para os criminosos, o ideal é que nenhum dos dois abra a boca. Mas, como eles não podem combinar a estratégia de defesa e um não tem como confiar plenamente no outro, a tentação é grande. E isso pode levá-los à pior situação para ambos: eles se traem mutuamente e a polícia passa a ter provas para que os dois sejam condenados.
É claro que a Lava Jato também colhe provas por outros meios além da delação, o que torna a opção de trair os colegas de crime mais vantajosa para aqueles que viram delatores. Mas o dilema do prisioneiro é parte importante da estratégia por trás das colaborações premiadas da operação.
O mais curioso é que o dilema do prisioneiro, do ponto de vista estritamente lógico (não moral), é o mesmo de todas as pessoas em suas relações sociais: afinal, quando é mais vantajoso colaborar com os outros e a sociedade (no experimento do dilema, representado pelo colega de prisão) e quando devemos ser individualistas? É essa pergunta que permeia decisões tais como seguir o comportamento da multidão, avançar o sinal vermelho, sonegar impostos, agir na própria casa para evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti...
A resposta foi dada em uma pesquisa de 1980 do norte-americano Robert Axelrod, da Universidade de Michigan. Ele promoveu um torneio de computador em que os participantes tinham de desenvolver programas para vencer adversários numa disputa envolvendo o dilema do prisioneiro.
A estratégia vencedora, corroborada por experiências posteriores, foi o tradicional “olho por olho”. O jogador começa cooperando (não com a polícia, mas com o outro preso). Após isso, sempre faz o que o adversário faz. Se o outro mantiver a colaboração, ele mantém essa postura. Se fosse traído, vai trair.
A estratégia do olho por olho no dilema do prisioneiro tem características que ajudam a pensar como poderia funcionar a sociedade. Ela implica em ser leal: nunca se trai primeiro. Prevê punição para o mau comportamento: devolve-se a traição na mesma moeda. Há ainda a generosidade: se o oponente passa a se comportar bem após a punição, a lealdade volta a ser a regra de convivência. E, por fim, a estratégia exige previsibilidade e transparência: com pouco tempo de “jogo”, sabe-se exatamente qual será o comportamento da outra pessoa.
Há um único porém nessa estratégia: se houver um erro involuntário do oponente, a tendência é retaliar na mesma medida – podendo produzir um círculo vicioso. Isso exige capacidade de perdoar.
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