A polêmica que envolve a libertação dos cães da raça beagle de um laboratório no interior paulista não levanta apenas o debate sobre pesquisas com animais. Por trás da discussão, reside uma questão mais profunda: qual é a posição do homem na natureza? Somos senhores do planeta? Ou apenas mais uma criatura? Muita coisa depende da resposta que a humanidade der a essa pergunta.

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A civilização foi erguida sem questionar a superioridade humana – até mesmo por necessidade, sobretudo de alimentação. O meio ambiente estava a serviço do homem e ponto final. Mas, à medida que a tecnologia avança e a exploração da natureza por vezes se torna desnecessária, os alicerces do pensamento e conduta tradicionais são questionados. A ponto de a humanidade poder estar mudando profundamente a forma como se enxerga.

Hoje, os direitos dos animais suscitam debate público de modo semelhante à discussão sobre igualdade humana de 300, 200 anos atrás. Houve uma época em que era considerado natural que houvesse direitos desiguais entre os homens. A escravidão, encerrada no Brasil apenas em 1888, foi o exemplo mais gritante desse período histórico.

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Muitos poderão dizer que a comparação é exagerada e que não se pode equiparar seres humanos com animais. Mas essa é exatamente a visão da ecologia profunda – ideia, cada vez mais influente, de que o homem é igual (e não superior) às demais espécies.

Além disso, do ponto de vista da perspectiva histórica, é inegável que a sociedade contemporânea caminha, ainda que aos tropeções, na direção de restringir a soberania humana sobre a natureza – de modo análogo aos limites que impôs aos monarcas dos séculos passados. No direito, há leis que coíbem maus tratos contra animais. E o meio ambiente saudável é uma garantia constitucional.

Mudanças comportamentais também seguem o mesmo rumo. O consumo sustentável é uma tendência. O vegetarianismo ganha cada vez mais adeptos. E, para aqueles que não conseguem abandonar as delícias da carne, cientistas já estão desenvolvendo o hambúrguer de células-tronco, que evitaria o abate de bois.

Nesse cenário, os questionamentos sobre pesquisas com cobaias simplesmente reforçam a pressão para restringir ainda mais a ação humana sobre os animais. A questão que resta saber é quais serão os limites que o homem aceitará para si mesmo.

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