Poucos meses após tomar posse, as popularidades do governador Beto Richa (PSDB) e da presidente Dilma Rousseff (PT) encontram-se próximas do chão. Também, não poderia ser diferente, visto que as medidas que ambos tomaram contrariam seus discursos na campanha eleitoral.
Enquanto Dilma disse que não mexeria em direitos trabalhistas nem se a vaca tussisse e fez parecer que uma série de medidas por ela adotadas só seriam tomadas caso Aécio ou Marina fossem eleitos, Beto Richa não falou em nenhum momento em mexer na Paranaprevidência e disse que as finanças do Paraná estavam devidamente saneadas.
Mas a distância entre o que é dito nas campanhas eleitorais e o que é feito durante os mandatos dos eleitos não é novidade nem exclusividade de Dilma e Beto Richa. Basta ver a distância entre as promessas de Gustavo Fruet sobre o transporte coletivo e a realidade atual. Basta refletir sobre o que foram os mandatos de Ducci, Lula, FHC, Requião, Taniguchi e Lerner.
Isso acontece porque as grandes campanhas são pautadas quase que exclusivamente pelos marqueteiros, que fazem os candidatos falarem aquilo que o eleitor quer ouvir. E, claro, isso acontece com milhões sendo gastos, de origens cada vez mais duvidosas (para dizer o mínimo).
As grandes campanhas são pautadas quase que exclusivamente pelos marqueteiros, que fazem os candidatos falarem aquilo que o eleitor quer ouvir
A novidade de 2015 parece ser a diminuição da tolerância com essa enganação. De janeiro para cá, temos visto uma série de manifestações, trancamento de rodovias e greves questionando os distintos governos. Até agora, a que mais chamou a atenção foi a greve dos servidores estaduais, que ocuparam a Assembleia Legislativa do Paraná por duas vezes e conseguiram, além das suas pautas mais imediatas, enterrar o malfadado tratoraço.
A queda de popularidade dos governos também mostra que a maior parte dos eleitores foi às urnas com o “nariz fechado”. Votou em Fulano mais por não gostar de Sicrano do que pelas propostas do candidato ou daquele partido. Mostra uma ausência de alternativas para além do “Fla-Flu” que cada vez mais toma conta da política brasileira em todos os níveis.
Considerando que esse cenário não é exclusivo do Brasil e que já temos experiências importantes na Espanha e na Grécia, é possível que uma alternativa política surja desses protestos. Mas ela só será verdadeira se tiver coerência para questionar os ajustes fiscais de lá e de cá, do “Fla” e do “Flu”, ir à raiz contra a corrupção (que é generalizada, fruto, em grande parte, da forma de organização das campanhas eleitorais) e se manifestar perante todos os estelionatos eleitorais que estamos vendo.
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