Já se tentou explicar o Brasil e o brasileiro de muitas formas. Mas dificilmente alguém entraria num banheiro público para encontrar respostas. Ainda assim, algumas delas podem estar lá dentro. Mais especificamente, num objeto banal: o rolo de papel higiênico (ou na falta dele).

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Reportagem publicada na última sexta-feira pela Gazeta do Povo mostrou que a Universidade Estadual de Maringá (UEM) coloca cadeados no suporte do rolo de papel higiênico de seus sanitários. O objetivo é evitar furtos, que de tão corriqueiros causavam constrangimentos a alunos, professores e funcionários que necessitavam usar o banheiro. A universidade, porém, ainda não conseguiu resolver o problema do "desaparecimento" de sabonete líquido e álcool em gel.

Embora não se possa afirmar que sejam estudantes que furtem os rolos, pois pessoas de fora da instituição circulam pela UEM, o caso é sintomático. Trata-se de uma universidade – centro do conhecimento, responsável por formar a intelectualidade do país. É possível supor que alguns universitários tenham tal comportamento. E isso conduz à especulação inevitável de que não necessariamente há relação direta entre ensino formal e educação cívica.

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Vários autores já identificaram um perfil psicossocial que perpassa todos os segmentos sociais do país e os leva a ver com descaso os bens públicos. O caso da UEM, ainda que não seja obra de estudantes, é sintoma disso. Quem leva embora o papel higiênico não respeita a coletividade. Pensa apenas em si próprio.

O antropólogo Roberto DaMatta sintetiza esse comportamento nacional em duas imagens: a casa e a rua. A casa é o mundo privado, dos "nossos", que são merecedores de afeto e proteção. É o espaço que se deve cuidar. Em contrapartida, como a rua é de todos, não é de ninguém na visão de muitos brasileiros – o que os "autoriza" a tomar para si os bens coletivos (como um simples rolo de papel higiênico).

E por que surgiu esse imaginário que retrata o ambiente público como a arena do vale-tudo? Uma resposta possível é que o próprio Estado brasileiro o criou. Constituído como um ente superior à sociedade, o aparato estatal brasileiro caracteriza-se por distribuir benesses aos amigos e a dureza da lei aos demais. Isso, infelizmente, leva ao comportamento de descaso com a rua. Afinal, se aquele que deveria ser o guardião do bem coletivo não cuida de todos, por que cada um deve se preocupar com os outros?

Esse é um pensamento equivocado, mas ao qual o país está preso. A nação saberá que se libertou dele quando não houver mais necessidade de cadeados nos banheiros.

PS: no link http://bit.ly/HckIrd é possível ler a íntegra da reportagem sobre os rolos de papel higiênico da UEM.

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