A tragédia do Edifício Liberdade, que desabou no Rio de Janeiro há uma semana levando abaixo dois prédios vizinhos, é um alerta. Não apenas para que se tome mais cuidado com obras de engenharia. A ruína dele está carregada de simbolismo. Ocor­reu no coração da cidade que mais representa o país. E sintetiza alguns dos dramas nacionais que, geração após geração, não conseguem ser superados. E que, por isso, ameaçam a construção de um Brasil mais forte.

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Ainda não se sabe quais foram as causas do desabamento. Mas tudo indica que elas estão relacionadas a alterações no projeto original, falta de manutenção na laje da cobertura ou a erros na reforma de dois andares do edifício – obra que estava sendo feita sem preencher todos os requisitos legais.

O improviso, o "jeitinho", a informalidade, o descompromisso com as obrigações e a resistência em seguir normas são questões há muito identificadas no caráter do brasileiro. Todos esses elementos parecem estar presentes no caso do Edifício Liberdade. Eles funcionam até determinado ponto e, em certa medida, expressam a criatividade nacional. Mas plantam também a semente de tragédias tão diversas como o desabamento de um prédio, a corrupção no poder público e a violência no trânsito.

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O desprezo pelo conhecimento e a ignorância – que também assolam o país e o impedem de avançar mais – são outros ingredientes que podem ter contribuído para levar a construção abaixo. A imperícia dos pedreiros ou dos engenheiros responsáveis pela execução das reformas é hipótese plausível para o desabamento. E, caso efetivamente tenha sido causa da queda, levaria o desastre carioca a conter outro dilema brasileiro: a má qualidade (ou ausência) da educação profissionalizante.

Por fim, o roubo dos pertences das vítimas, espalhados nos escombros dos prédios, é a perversa aplicação máxima da Lei de Gérson – uma das poucas que parece ser seguida nos quatro cantos do Brasil. Não importa o sofrimento dos familiares dos mortos. Ou o drama dos sobreviventes que perderam sua história pessoal, guardada em documentos e objetos que se misturaram à montanha de entulho. Para alguns, é preciso levar sempre vantagem, mesmo que seja em meio a um desastre e à dor alheia.

O Brasil é mais forte do que um prédio. Não vai ruir como o Edifício Liberdade. Mas os alicerces da nação são corroídos incessantemente pelos mesmos agentes que parecem estar na origem remota do desabamento do Rio. São eles que fragilizam o país e o impedem de se erguer mais ao alto.