Talvez o maior segredo da vida seja saber qual é o equilíbrio que havemos de ter entre lembrar-se do que importa e esquecer o que deve ser esquecido. Estamos sempre tirando do baú de nossas memórias algum ressentimento, medo ou frustração. Ou então ficamos lembrando a todo momento de cumprir metas, obrigações. Mas nos esquecemos de nos questionar se a estrada em que caminhamos leva aonde gostaríamos de chegar. Contudo, nas vezes em que paramos e damos a nós mesmos uma resposta, ela parece simples. Tão simples que até desconfiamos: “Ah, não passa de um amontoado de clichês...”, dizemos.
Houve um tempo em que o clássico da literatura O Pequeno Príncipe também foi assim chamado: um grande clichê; o livro de cabeceira das misses. Mas os concursos de miss perderam a majestade. Não o principezinho – que agora resgata seu prestígio num filme de animação em cartaz nos cinemas. A história do menino de cabelo cor de ouro é uma fábula universal, como um bom clichê que se repete em todas as idades e gerações. Trata do essencial, que insistimos em esquecer.
A história do menino de cabelo cor de ouro é uma fábula universal, como um bom clichê que se repete em todas as idades e gerações
Logo no início do livro, o narrador conta como esqueceu de seu primeiro sonho: ser desenhista. Ainda criança, rabisca uma jiboia que havia devorado um elefante. Os adultos só conseguem enxergar um chapéu disforme. E desaconselham o menino a seguir adiante com aquela ideia.
O narrador desiste do sonho. Cresce. E vira aviador. Mas, num dia qualquer, o avião que pilota cai no deserto. Ele está só em meio às dunas do Saara. E o improvável acontece: um garotinho aparece do nada para lembrar-lhe da infância ao lhe pedir que desenhe um carneiro. É o Pequeno Príncipe, que passa a contar a história de como deixara o asteroide em que vivia para se aventurar pelo universo após se machucar com a rosa que amava – uma flor bela, mas também vaidosa, exigente e um tanto manipuladora.
O garoto conta ao aviador que, em sua jornada, conhecera tipos muito estranhos, mas familiares a nós: o soberbo que acha que é rei, mas não tem súditos; o vaidoso; o negociante que só vê números; o bêbado que bebe para esquecer da vergonha de ser bêbado; o acendedor de lampiões que os acende sem saber a razão, apenas para cumprir ordens.
Porém, o Pequeno Príncipe também relata ter encontrado a amizade de uma raposa. Diz que ela o ensinou que pela sua vida passarão milhares de pessoas sem importância alguma. Que vão se parecer todas umas com as outras. Mas que, se dedicar tempo a criar laços com alguém, vai ocorrer algo mágico: o que é igual será único. Como um amigo. Ou um amor. É quando, tocado por essa verdade, o menino decide voltar para sua flor. Por mais que a rosa tenha seus defeitos, ela é sua. A flor diz bobagens, é verdade. Mas ainda assim perfuma e alegra o asteroide. Afinal, é melhor julgá-la pelas ações, não por palavras.
Talvez o Pequeno Príncipe seja aquela voz que nos aparece na solidão. Um sussurro que nos impele, quando estamos perdidos no nosso deserto interior, a achar o poço que vai matar nossa sede. Um sopro que nos lembra que o essencial é invisível aos olhos.
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