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Prédios não falam. Mas a arquitetura diz muito sobre uma sociedade e sua época. Edifícios públicos, então, revelam o que pensam as autoridades que os construíram e a imagem que elas querem legar. No Brasil de hoje não há obra governamental – ou ao menos fortemente financiada com dinheiro estatal – tão simbólica como os estádios da Copa. Modernos, confortáveis, caros, eles denotam a ânsia dos políticos de exibir uma nação desenvolvida. Mas esse não é o país das ruas, como comprovam os protestos que tomam conta das maiores cidades brasileiras.

As arenas da Copa têm padrão europeu, de nação rica. E não são para todos. Os ingressos, devido ao alto custo de construção e de manutenção dos novos estádios, serão os mais caros do mundo em relação ao poder de compra da população. E o futebol nacional será enredado ainda mais na tendência à elitização.

De certa forma, também é assim em relação aos serviços públicos: saúde, educação, transporte, segurança. Como costumam ser precários, quem quer qualidade tem de pagar a uma instituição privada que oferte aquilo que deveria ser oferecido pelo Estado. Aos demais, àqueles que não têm dinheiro suficiente, o acesso ao Brasil que funciona é negado, como ocorre ao torcedor que porventura não tenha o tíquete do jogo. É a cidadania reduzida a uma relação de consumo.

Os novos estádios ainda proporcionam outros paralelos com a atual situação do país. Caríssimos e finalizados com atraso, revelam a incapacidade nacional de planejamento. Construídos com dinheiro ou incentivos públicos, vão gerar benefícios principalmente privados. Arenas de propriedade de governos estão sendo concedidas a empresas que, mesmo sem terem feito investimento algum, vão lucrar com as partidas de futebol, shows e outros eventos que nelas serão realizados.

De igual maneira, há no país muito aporte de dinheiro público em atividades ou setores que pouco ou nada dão de retorno para a comunidade: benesses a parlamentares e juízes; incentivos fiscais a segmentos industriais sem haver contrapartidas socioambientais; financiamentos generosos para empresas escolhidas a dedo pelas autoridades – as "campeãs" nacionais.

A modernidade das arenas da Copa não traduz, enfim, o Brasil real. Mas as circunstâncias em que foram erguidas e serão usadas, paradoxalmente, ajudam a desnudar dilemas persistentes do país. Tal como a desigualdade social que os antigos estádios refletiam melhor: neles havia algumas cadeiras numeradas para os endinheirados, arquibancadas sem assentos aos remediados e a geral para os desvalidos.

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