A série de reportagens "Diários Secretos" da Gazeta do Povo e da RPCTV permite vislumbrar uma estratégia de sobrevivência para o jornalismo diário, apesar do pessimismo que abate o setor. Metade dos editores de jornais, rádios e tevês dos Estados Unidos acredita que seus veículos não vão sobreviver nos próximos 10 anos caso não descubram novas fontes de receita. É o que diz uma pesquisa recente do Pew Research Center. Entretanto, um dos efeitos do fim da mídia tradicional, mais especificamente dos jornais impressos, seria o fim do jornalismo de fiscalização.

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Essa ideia foi objeto de palestra do pesquisador e jornalista Clay Shirky, em Harvard, em setembro de 2009. Shirky acredita que sem jornalismo de fiscalização ocorreria mais corrupção e as pessoas perceberiam isso e buscariam uma forma de financiar a produção desse tipo de conteúdo. Ou seja, num mundo sem jornais, não haveria espaço para matérias como as dos "Diários Secretos".

Em sua palestra, Shirky explica que, por circunstâncias históricas, os anúncios bancaram um jornalismo de larga escala. Em folhas de papel todos os tipos de informações eram colocadas, lado a lado – entretenimento, palavras cruzadas, classificados etc. e matérias de fiscalização do poder público. A rede desestabilizou os jornais em dois flancos. O primeiro, a migração dos anunciantes para as mídias on-line. Enquanto jornais, rádios e televisões não trazem métricas que garantam eficácia, a internet pretensamente apresenta formas mais quantificáveis para avaliar o custo e o retorno que se tem de uma propaganda.

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O segundo ponto está relacionado a uma tendência de os leitores usarem a internet para personalizar os conteúdos que desejam ler. Quanto mais as pessoas interagem na rede, quanto mais trocam informações, menos os grandes portais detêm poder.

Porém, a rede não conseguiu superar um modelo que seja tão competente quanto o dos jornais para realizar jornalismo de fiscalização. Esse ponto de vista é sustentado com base em argumentos dados por Shirky: por circunstâncias históricas, os jornais concentram receitas de anunciantes que excedem seus custos, de tal forma que podem se dar ao luxo de gastar para a produção de matérias de fiscalização do poder público.

A função social do jornalismo impresso, nesse sentido, é um efeito colateral do meio.

Não estivessem os diversos conteúdos sendo embalados e vendidos juntos, não existiria a fiscalização do poder público pelas mídias. Pois não haveria receitas suficientes para que os veículos fossem independentes. Eles estariam vulneráveis para as sanções de grandes empresas e dos governos – os tradicionais grandes anunciantes.

Quando se observa a série "Diários Secretos", entende-se a importância que existe na fiscalização dos agentes políticos pela mídia. Esse é um nicho em que a grande imprensa é mais competente que a internet. A rede não consegue financiar esse tipo de conteúdo. Ele é caro. Não tem retorno imediato.

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Contudo, algumas pessoas têm me afirmado que pretendem renovar suas assinaturas justamente por entenderem que existe a necessidade desse tipo de fiscalização. Num mundo de crise, talvez seja esse o caminho para a sobrevivência dos jornais – fazer bom jornalismo de fiscalização.

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O titular da coluna está de férias e retorna dia 10 de maio.