Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Fernando Martins

Os 20 anos da nossa Constituição

Em 184 anos de Independência, o Brasil teve nada menos do que oito constituições diferentes. Cada uma ao gosto do freguês de ocasião. Ou seja, algumas mais liberais quando o país se democratizava; outras autoritárias nos períodos de ditadura. A atual, promulgada em 1988, daqui a 18 dias fará 20 anos. Faltarão mais três para atingir a média de duração das Cartas Magnas nacionais.

Enquanto isso, exatamente hoje os Estados Unidos comemoram os 221 anos da sua enxuta Constituição – um recorde mundial. No Brasil, os constituintes precisaram de 250 artigos (além de outros 94 de disposições transitórias) para descrever os direitos e deveres dos cidadãos e do Estado. Já os norte-americanos resumiram tudo em sete artigos. Para aperfeiçoar o texto constitucional brasileiro, nossos deputados já fizeram 62 emendas (média de três por ano). Os americanos se contentaram com apenas 24 emendas – uma a cada nove anos, em média.

A simplicidade é justamente a razão da longevidade e o principal mérito da Constituição dos EUA. A lei maior deles dá regras de como deve funcionar o Estado e garante direitos fundamentais aos cidadãos. E só. O resto fica para ser definido pela legislação comum. Como são princípios gerais, não é preciso mudar a Carta Magna toda vez que o trem da História passa.

Já no Brasil, além de normatizar os direitos básicos dos cidadãos e o funcionamento do Estado, os legisladores acrescentaram tantas minúcias à Constituição que algumas delas acabam por amarrar o cotidiano do país. As relações entre capital e trabalho não são mais as mesmas e é preciso fazer a reforma trabalhista? Temos de mudar a Constituição. O sistema nacional de impostos não condiz com a nova realidade de uma economia globalizada? Temos de mudar a Constituição. O país está envelhecendo e a Previdência precisa de novas regras? Temos de mudar a Constituição.

Talvez o modelo americano de Constituição super-enxuta não seja aplicável no Brasil. Regras muito gerais costumam ser solenemente ignoradas por nossos políticos – vide o caso do nepotismo, que durante 20 anos sempre feriu o princípio constitucional da impessolidade na administratação pública, mas que só agora começa a ser banido dos três poderes.

Mas uma Constituição sintética como a dos Estados Unidos tem outra vantagem cívica. Qualquer cidadão, mesmo um estudante, em 20 minutos consegue lê-la por inteiro para saber quais são seus direitos. Assim, pode cobrá-los das autoridades. Já a Carta brasileira é um "livro" de 400 páginas. Alguém que não trabalhe na área jurídica se aventura a encará-la?

Fernando Martins é jornalista.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.