Por que rimos? O que causa aquela incontrolável sensação de achar graça de alguém ou de uma situação? A resposta a essas perguntas talvez explique um pouco da natureza humana mais íntima. E, assim, ajude a compreender por que o humor tem sido rotineiramente alvo de autocratas e, agora, também de terroristas como ficou evidente com o atentado ao jornal satírico Charlie Hebdo.
Há três grandes teorias do riso. Uma delas é a da incoerência. A graça seria fruto de uma contradição entre o começo de uma ação e o seu fim inesperado. O fato engraçado frustra as expectativas, cria uma incoerência. A mente, de início, não entende o que se passa. Quando compreende a incongruência, provoca a risada.
A graça está, então, em aceitar a "trapaça" dos fatos, o inesperado da vida. Admitir que nossas expectativas às vezes não se concretizam. Que nem tudo é do jeito que queremos. É o oposto do que desejam os ditadores e os terroristas que agem em nome de uma religião. Eles buscam impor à força suas verdades absolutas e imutáveis. O que não sai do jeito que querem é uma ameaça. O humor, nesse sentido, é um permanente incômodo a desmentir a visão de mundo deles.
Há ainda a teoria do alívio para explicar o riso. Freud especulou que a vida em sociedade exige de todos nós a autoimposição de censura por exemplo, não rir quando alguém tropeça à sua frente. Isso causa uma tensão psicológica represada. O humor seria uma forma de burlar a censura interna e aliviar a tensão o que se manifesta com gargalhadas.
Não é preciso discorrer muito para enxergar o imenso potencial de contestação que está nas mãos de comediantes e humoristas algo que aqueles que querem impor suas regras de conduta não aceitam.
A terceira explicação para o riso é a teoria da superioridade. O humor, nesse caso, seria uma forma de uma pessoa ou um grupo mostrar-se socialmente mais importante do que outros. Manifesta-se por meio da depreciação alheia. Pode assumir duas faces. Uma é negativa: vira-se contra as minorias, estigmatizando-as. Por isso é a modalidade de humor mais criticada atualmente. Mas outro lado dessa postura é positivo, por meio da crítica irônica dos erros e incoerências dos poderosos e das instituições.
De qualquer maneira, ao adotar a postura de superioridade, o humor torna-se inaceitável para aqueles que têm a certeza de que são melhores do que os outros.
Dê sua opinião
O que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink