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Senhor ou você. Atendimento imediato ou espera mais longa. Gentileza ou frieza. A diferença entre uma forma de tratamento e outra é fruto principalmente da imagem que se passa aos outros. Ou do preconceito, como queiram. Fui vítima dele, intencionalmente. Há quase 14 anos, fiz um experimento social para uma reportagem. Visitei 13 estabelecimentos comerciais de Curitiba – a maioria deles num shopping – vestido como "pobre". Três semanas depois, voltei às mesmas lojas como "rico". A experiência voltou à minha memória nestes tempos em que se discute os "rolezinhos". E me ensinou que as aparências enganam – inclusive quando falamos de preconceito.

Trajando terno e gravata, fui atendido mais rapidamente e atenciosamente do que usando boné, camiseta e calça de moletom surrados. Virei "senhor" para os vendedores, quando antes era apenas "você". Em cinco lojas, a diferença de tratamento foi brutal. Obviamente, fui julgado pela aparência – mais ou menos como ocorre com vários jovens da periferia que frequentam shoppings nas grandes cidades do país.

Mas em sete estabelecimentos o tratamento que recebi não foi substancialmente diferente entre as minhas duas "versões", a ponto de me sentir discriminado. Em um deles – que vendia eletrodomésticos – fui até mais bem atendido como "pobre".

O preconceito, portanto, não é absoluto. Quem circula pelos shoppings de Curitiba percebe isso. Em grande parte deles há jovens de periferia se divertindo e consumindo. Eventualmente, haverá casos de discriminação. Mas a interpretação de que os shoppings e a classe média tradicional querem espaços exclusivos para si, que surgiu após o fenômeno dos rolezinhos, é outra forma de preconceito. É uma imagem, uma aparência, que generaliza os remediados e os empresários, como se todos fossem preconceituosos e adversários da periferia. A realidade não é assim tão "8 ou 80".

O que parece ocorrer na reação à nova onda de encontros nos shoppings é muito mais o temor das multidões, embora não se deva descartar o papel da discriminação social. Nas grandes aglomerações, a pessoa corre o risco de perder sua individualidade e de ser levada pela massa a fazer algo que normalmente não faria. Marcados pela internet, os rolezinhos têm reunido centenas, por vezes milhares de adolescentes. E houve excessos. Alguns terminaram em corre-corre e em roubos esporádicos de lojas. Mesmo a pessoa menos preconceituosa do mundo teria receio numa situação dessas.

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