Um desafio ao leitor: pense rápido, responda e só depois avance no texto – qual é o horizonte da sua vida? Aposto que a maioria imaginou seus planos futuros, os objetivos que pretende atingir. Ou também os limites que lhes são impostos. Talvez poucos tenham rememorado uma inesquecível paisagem e aquela linha imaginária em que o céu toca a terra. Sem problemas. Há muito tempo o termo “horizonte” tem um uso muito mais metafórico, no sentido de “perspectiva”. Quem sabe não seja porque quase não o vemos mais, escondido que está por detrás dos prédios das grandes cidades. Sinal dos tempos: a palavra da moda na urbe é verticalizar.
Tenho cá pra mim que isso nos empobreceu de um modo que nem sequer percebemos claramente. O labirinto de edifícios nos tira a perspectiva da distância, da amplitude – a não ser, é claro, que subamos num prédio que seja bem alto. Para quem está no chão, contudo, o limite da visão está logo ali, poucos quarteirões adiante, encerrado por um paredão de concreto e tijolos.
Até a maior obra da engenharia humana é diminuta à medida que nos afastamos dela
A cidade tem seu lado bom, é verdade. Tudo é mais perto e, portanto, mais rápido. Mas esse mundo também restringe. E pode sufocar. Sinal disso é que costumamos arrumar um jeito de fugir dessa limitação, de satisfazer o desejo inconsciente de deixar o olhar correr em busca do horizonte perdido. Ao comprar ou alugar um imóvel, não preferimos, afinal, o que tem uma bela vista àquele em que a janela dá para a parede do vizinho? Não adoramos viajar para a praia só para ficar apreciando a vastidão do mar, do céu e do encontro entre os dois?
De vez em quando precisamos ver mais à frente. Lembrar que há muito mais para enxergar do que aquilo que nos rodeia. Mirar o horizonte ajuda a não tomar como grandes as miudezas da vida. Até a maior obra da engenharia humana é diminuta à medida que nos afastamos dela. A certa distância, podemos varrê-la da vista com um simples gesto do polegar.
Acredito ainda que a cidade grande, ao limitar a vista, nos privou de uma deliciosa esperança: a de que há algo que nos liga ao céu e a todos os significados que essa palavrinha assumiu ao longo da história humana.
O chão urbano, aquele que pisamos todos os dias, termina numa casa, num prédio. Raramente encontra o firmamento. É um caminho do concreto ao concreto. Da matéria à matéria. Uma pena. Quando olho o horizonte, gosto de pensar que é ali que a realidade toca o sonho e a imaginação. Onde a carne beija a alma. Onde o perecível encontra o eterno. Confesso: é o desejo de chegar a esse local que me faz seguir adiante. Sei que, a cada passo que dou, ele se afasta de mim outro passo. Mas, caminhando em sua direção, ao menos conheço novas paragens, pessoas, perspectivas. Esse é o meu horizonte. Qual é o seu?