Curitiba e diversas outras cidades do país celebraram na terça-feira o Dia Sem Carro. Na semana passada, a prefeitura anunciou o limite máximo de 40 quilômetros por hora nas ruas do anel central. Meses antes, já havia lançado o projeto das vias calmas, também com velocidade reduzida e compartilhamento do espaço entre carros e bicicletas. São propostas inspiradas em experiências internacionais. E, mais do que medidas de segurança no trânsito e para estimular novas formas de deslocamento, parecem indicar uma nova tendência: a revalorização da lentidão – não apenas nas ruas, mas também na vida.
O mundo moderno exige pressa, rapidez. Foi construído a partir da revolução científica, que aprimorou as técnicas de produção e permitiu à humanidade romper a cadência dos ciclos da natureza. Não era mais necessário esperar o dia nascer para haver luz. A manhã foi acelerada com a lâmpada. As pernas do mensageiro foram aceleradas com o telefone. E as do cavalo, com a invenção do automóvel.
A revolução científica permitiu à humanidade romper a cadência dos ciclos da natureza
O carro, por sinal, tornou-se símbolo da era da velocidade. Virou um dos principais objetos de cobiça contemporâneo. Dá status. É admirado. Sintoma disso é a popularidade do automobilismo. Mas o veículo automotor, que prometia rapidez e por muito tempo a entregou, também levou as grandes cidades a pararem em congestionamentos cada vez maiores. O remédio contra a lentidão virou veneno.
Talvez o destino do carro – como bom símbolo dos tempos atuais – seja o mesmo da vida acelerada. As exigências de aumentar a produtividade do trabalho – que nada mais é do que fazer mais com menos (inclusive tempo) – elevaram o nível de estresse. Há quem relacione isso ao aumento de doenças psicossociais. O remédio contra a lentidão virou veneno.
Contudo, já existe uma reação contrária à vida acelerada. O crescimento do mercado de turismo e lazer é a face mais evidente dessa tendência. Há outras. O movimento slow food se insurge contra a lógica do fast food. Prega a lentidão da refeição, que deve ser um momento de lazer e confraternização. A tese do ócio criativo, do sociólogo italiano Domenico de Masi, faz sucesso. Há um grupo cada vez maior de pessoas optando por empregos que, embora ofereçam salários menores, garantem mais qualidade de vida. Variadas formas de meditação – um tempo para desacelerar a mente – também ganham mais adeptos.
Depois de pisar fundo no acelerador da vida, parece que o homem está começando a pôr o pé no freio. Quem sabe não seja um grande movimento pela vida menos rápida, o slow life.
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