Em mais um dos súbitos ataques de saudosismo, Natureza Morta recolheu da biblioteca da mansão da Vila Piroquinha a série A Reportagem Que Não Foi Escrita, de Mario de Moraes, revista O Cruzeiro. Trata dos bastidores, não propriamente dos bastidores do assunto abordado. É que, ao sair a campo (bons tempos), o jornalista topa com muitas outras histórias, "assaz" interessantes, como ele, o Natureza, prefere dizer, mas que não justificariam o "portal da fama".

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Antes, porém, que pudesse brandir também Os Arquivos Implacáveis de João Condé, Beronha tratou de providenciar um aparte, daqueles de trancar a pauta do Congresso, passando a contar coisas que o leitor, o ouvinte e o telespectador não devem ter lido, ouvido ou ouvido e visto.

– Não sei quem foi o autor, mas a sacada foi inesquecível. Em determinado dia (ou noite), em 1982, o apresentador do Jornal da Globo dá a notícia de encerramento:

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– Um pequeno avião caiu hoje em (tal cidade). Ninguém morreu... (pausa) O avião levava o Trio Parada Dura.

E aí, Beronha desfiou o carretel:

– E tem outra, na Rádio Emissora Paranaense. Um jingle anunciava "a hora certa Neugebauer", ao que, olhando para um relógio de considerável tamanho, no alto da parede do estúdio, o locutor completava: em Curitiba, xis hora. Uma bela tarde, sem os óculos de lentes espessas, completou, com certeza britânica:

– Em Curitiba, 14 horas e 28 minutos.

Desesperado, o sonoplasta sinaliza o erro. Eram 17h30. Impassível, o locutor "conserta":

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– Mais ou menos...

Corte rápido. Telejornal, sim, minha senhora, aquele mesmo, do tempo do sonoplasta da rádio. Estilo pingue-pongue, dois apresentadores. O primeiro exclama: Roma! Entra o segundo: "Em Roma, a greve dos garis..." E por aí vamos. Alternadamente, um canta a procedência e o outro passa a notícia. Lá pelas tantas, a molecagem. O primeiro anuncia: Paris!

Silêncio mortal, até que o parceiro, fixado na câmera, livra-se da casca de banana solenemente:

– Não há notícias em Paris...

Lá pelos idos de 70/80, no pico da onda de seqüestros de aviões, o maior inferno era fazer títulos de chamadas de primeira página em uma coluna. O número de "toques", como se dizia, era reduzido: seis. Pior: eram quatro de seis. Traduzindo: quatro linhas de seis toques (contando também os espaços).

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Era preciso queimar muito fosfato, curvando-se ao que se chamava de "ditadura gráfica", ou tipográfica (sem essa de condensação de texto, como hoje), e sem nenhuma alusão à outra ditadura, que resolvia "problemas" com a imprensa baixando a censura ou mandando prender. Ou matar.

Voltando ao desafio tinta/papel. Um determinado fechador de primeira página encontrou a solucionática. Os chamados piratas do ar tinham desviado um avião da PanAm. Mandou ver: "Grupo/ rapta/ avião/ no Irã". O chefe da revisão, que era chamado de chefe da "revizão", teve seu aguardado momento de vingança: mandou o autor das mui maltraçadas linhas descobrir a diferença entre seqüestro e rapto. No segundo caso, ainda cutucou: "Gostaria de ver o que o imbe (imbecil para os íntimos) conseguiria fazer com um Boeing depois de raptá-lo..."

Francisco Camargo é jornalista.