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Francisco Camargo

Breve retorno à Galeria Alaska

Beronha garante que a vida é uma sequência de mancadas. Algumas maiores, outras menores ou nem tanto, mas sempre mancadas. Natureza Morta prefere Guimarães Rosa: "Viver é muito perigoso".

De qualquer modo, por uma daquelas coincidências da vida, a dupla foi parar no Rio de Janeiro, recentemente. De cara, seguiu para o sindicato. Explico: sindicato é um bar, na Avenida Atlântica, Ipanema. Na verdade, o nome é "Sindicato do Chope", junto à famosa, principalmente nos anos 1970, Galeria Alaska.

Foi naquele ponto, aliás, que assassinaram Almir Morais de Albuquerque, o Almir Pernambu­­quinho, um dos jogadores mais fantásticos e polêmicos do futebol brasileiro. Foi em fevereiro de 1973. Almir, com 36 anos, "catimbeiro, valente e brigão", envolveu-se numa discussão e acabou morto a tiro. O rolo aconteceu com um grupo de portugueses, no bar "Rio-Jerez", em frente à Galeria Alaska, na noite do dia 6. Eles mexeram com alguns travestis e Almir interveio, peitou a turma, saiu pro braço. Um dos portugueses sacou o revólver e, com um amigo do jogador também estava armado, "o tiroteio rolou solto no calçadão da Avenida Atlântica".

Revelado pelo Sport Clube Re­­ci­­fe, Pernambuquinho foi para o Vas­­co da Gama em 1957, aos 19 a­­nos, tornando-se ídolo da torcida. Jo­­gou também no Corinthians, nos anos 1960 (o ano confere, professor Jacy Cruz?), quando foi a­­nunciado pelo presidente Vicente Ma­­theus como "o Pelé branco" (também confere, professor?). Es­­te­­ve na Fiorentina, Boca Juniors, Ge­­noa, Santos, Flamengo e América carioca. Encerrou a carreira em 68.

Entre as brigas em campo, a mais famosa de Almir – e não por menos chamada de batalha campal – ocorreu no jogo Brasil x Uruguai, em 1959. Houve outra, homérica, pelo Campeonato Carioca de 1966, na partida Flamengo x Bangu. O Mengo perdia feio, havia fortes indícios de "esquema" (jogadores e o árbitro na gaveta) e Almir saiu "distribuindo pontapés, socos e cabeçadas". O Bangu foi campeão, mas não deu a volta olímpica. Depois, declarou:

– Agente ia levar um saco de gols e eu resolvi acabar com o carnaval. Quem passou pela minha frente apanhou.

Esse era Almir Pernam­bu­qui­nho, que tombou não com uma bala perdida. Seria muita ironia, uma molecagem para quem nada temia.

Vai daí que, prosseguindo o pa­­po agora com um velho amigo, o Ge­­rardo Titus Montilla, Beronha qua­­se desabou com uma observação:

– Você está exatamente no lugar em que Almir foi morto.

Beronha pediu mais uma, reforçando a dose pro santo, enquanto Natureza repaginava o assunto, recordando as peladas nas areias do Leme, contra a "pá" (turma) do Cueca.

Tempos em que não só era possível jogar futebol livremente em Copacabana como a fonte da corrupção e do banditismo estava no jogo do bicho e, os imperadores do crime, eram idealizados com uma certa aura de romantismo, figuras como Cara de Cavalo e Mineirinho.

Hoje, na antiga Galeria Alaska, onde funcionava a explosiva boate "Catacumba", existe até uma igreja evangélica.

Francisco Camargo é jornalista

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