A sensação é de que você está em pleno Festival de San Fermín, em Pamplona. Não em uma sacada, com uma taça ou caneco ao alcance da mão, mas no meio da rua, indo no sentido contrário da massa e dos touros. São os encierros, nos quais os participantes correm na frente de dez monstrengos enfurecidos. Loucura? Pode ser, mas ela virou uma tradição que remonta a 1591.
Só que, na verdade, você está em Curitiba, no trânsito, onde, ao contrário de Pamplona, não se sabe quem é quem quem é gente e quem é touro enfurecido.
Aqui, como bem observou o amigo e colega Sérgio de Deus, "não existe mais horário de pico". Toda hora é hora de. Na guerra pelo espaço, o congestionamento já começa no elevador e na garagem do prédio. E está piorando. Os prediões não param de surgir. Eu, pessoalmente, já dei adeus à tranquilidade do Juvevê e do Ahú. Penso qual será o futuro do meu outro amigo, o homem do caldo de cana, sem falar daquele do sonho, que sempre estava passando.
Números do caos: de 1999 a 2006, Curitiba passou da quinta para a maior frota de veículos do país proporcionalmente à população. Há quem comemore tal feito: a indústria automobilística, a indústria da multa, a indústria do estacionamento, sem esquecer dos flanelinhas, dos latoeiros e da turma do esquema das calotas BMW. Saltamos, no período, de 684.212 veículos para 990.542. Com 1,8 milhão de habitantes, por aí, a média chegava a um veículo para quase dois habitantes em 2006. Como a cidade já ultrapassou 1 milhão de veículos, Natureza Morta não imagina quem, em sã consciência, ainda possa comemorar. Beronha, no entanto, acrescenta à tal lista o vendedor de maracujina. E, quem sabe, a loira da rotatória. Ela deve estar adorando o "carrossel" do Centro Cívico.
Na dúvida, sinal amarelo, Natureza desata o cinto e brada:
Parem o trânsito que eu quero sair!
Fechando o rosário de queixas e alertas sobre o deslumbramento reinante, a irascível dupla (seria tão somente irascível?) caiu na rede. Na rede mundial de computadores (WWW), que completa 20 anos. Muito foguetório virtual por aí. Tim Berners-Lee, apontado como o pai da criança, justifica que a tecnologia ainda está em sua "infância".
Infenso a muitas coisas (cada macaco em seu galho), Beronha concluiu que ela tem sido muito problemática, primando pelas transgressões, um prontuário policial altamente promissor.
Urge encaminhar a dita cuja a uma escola correcional. Com direito a camisa-de-força.
Rede? Para ele, só a de descanso. E à sombra.
Já Natureza prefere recorrer a Umberto Eco, em seu Viagem na Irrealidade Cotidiana:
"Como sugeriu o professor McLuhan, a informação não é mais um instrumento para produzir bens econômicos. Mas tornou-se ele próprio o principal dos bens. A comunicação transformou-se em indústria pesada. Quando o poder econômico passa de quem tem em mãos os meios de produção para quem detém os meios de informação que podem determinar o controle dos meios de produção, também o problema da alienação muda de significado.
Diante da sombra de uma rede de comunicação que se estende para abraçar o universo, cada cidadão do mundo torna-se membro de um novo proletariado".
Pano rápido, como diria Millôr.
Francisco Camargo é jornalista.
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