Ministério da Saúde recomenda: torcer pelo Atlético faz bem à saúde. Ganhe, tropece ou empate.Vejam o caso do Beronha. Ele não suporta acompanhar o jogo pelo radinho de pilha (um legítimo Spica) ou pela televisão ("a bola passou raspando", grita o narrador, quando todo mundo viu que a "Leonor" quase decepou a bandeirinha de córner). Assim, nosso anti-herói optou pelas caminhadas. Caminhadas que deveriam durar exatos 90 minutos, salvo quando Sua Senhoria determina acréscimos ou tem prorrogação mais cobrança de pênaltis.
Para quem já brilhou dentro das quatro linhas, diz, estufando o peito, ficar apenas torcendo é uma penitência insuportável. Aliás, eu propriamente não jogava. Dava show.
A observação beronhística procede não quando ele se declara um ex-craque. Segundo os alfarrábios do Natureza Morta, Beronha não passou de um "bastante medíocre center-alf", com um sofrível estágio no Atlético Paranaense, nos tempos da velha Baixada, com direito aos "pinheiros do velho Max", atrás do gol dos fundos, e da igualmente lendária Curva da Laranja.
Pausa para explicar: os pinheiros eram uma brincadeira da torcida, referindo-se à novela Cavalo de Aço, da Globo, sucesso na época (1973), na qual o pinheiral do Max era motivo de disputa. Curva da Laranja? Também ficava nos fundos, à esquerda de quem entrava no estádio. No perímetro, juiz, bandeirinhas e adversários eram alvo fácil das cascas de laranja dos torcedores mais irascíveis.
Pacificador por excelência, Natureza não conta abertamente, mas teria presenciado o trêne do Beronha para um jogo contra o brioso Seleto de Paranaguá. O técnico testou Beronha na lateral direita. Osso duro. Recorreu às placas de propaganda da velha arquibancada de tijolos.
Preste atenção...
Sim, mestre (naquela época ainda não tinha pintado na área o dito "professor", que tanto abunda nas entrevistas de hoje. NR).
Recebendo a bola, você dispara até ultrapassar a linha do centro do campo. Continua correndo e, quando chegar na altura da placa do Vadeco (Vadeco era um famoso ferro -velho que existia em Curitiba. NR), cruza forte para dentro da área. Vai ter algum atacante à espera...
Perfeito, mestre.
Atlético em Paranaguá. Jogo quente, surge a oportunidade do lance cansativamente ensaiado. Beronha arranca feito cachorro atropelado, como diria Nelson Rodrigues, e vai. Vai, vai, passa a linha central, a intermediária adversária, e continua até sair de campo. Com bola e tudo.
No vestiário, a cobrança do técnico, hoje o proclamado professor:
Por que não você não cruzou a pelota, conforme o combinado?
Bem que tentei, mas olhava, olhava e não achava a placa do Vadeco...
Ainda bem que o Atlético tinha vencido pelo "elástico placar" de 3 a 0, como irradiava o Spica.
De qualquer modo, caminhar faz bem ao coração, aos músculos, à circulação, à cabeça. É um bom remédio, mas leia a bula com atenção. E, ao persistirem os sintomas, um médico ou analista deverá ser consultado.
Francisco Camargo é jornalista.
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