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Georgina Ceci Szezesniak e Irene Silva, ex-moradoras do pensionato de moças das irmãs Missionárias de jesus Crucificado, no final dos anos 1950 e 1960. Horários rígidos e vigilância quanto aos namoros. Era comum as moças mudarem de internato quando encontravam algum que lhes permitisse chegar um pouco mais tarde ou que permitissem a entrada do namorado na sala de estar
Georgina e Irene. Internato que funcionava na antiga mansão dos Lindroth recebia cerca de 30 moças – a maioria de famílias com posses. O local incluía missas com o capelão, então padre Pedro Fedalto, futuro arcebispo de Curitiba
Casamento de Georgina Ceci em janeiro de 1965. Colegas do internato foram à cerimônia. Expressões como
Georgina com amiga em caminhada no Centro da cidade. Experiência de amizade é o aspecto mais salientado. Várias moradoras continuam se encontrando, cinco décadas depois
Moradoras do pensionato que funcionava na Vila Sophia, como era chamada a mansão dos Lindroth, na Rua Mateus Leme esquina com a Barão de Antonina. Foto é do início da década de 1960. Moradoras escolhem a miss Simpatia
Moradoras do internato
Georgina, à direita, e duas colegas de pensionato, durante concurso interno de rainha de beleza
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Quando um leitor liga ou escreve – já nos cascos –, recorro a dois textos que me consolam. São meu Valium. Um deles se chama "Sua excelência, o leitor", de Cristovão Tezza, publicado na Gazeta do Povo em 2009. O outro é "Jornalismo e crítica", de Marcelo Coelho, de 2000.

Tezza diz que o leitor de jornal é um "Procon ambulante", que cobra sem dó quando contrariado em seus credos. Como o cronista tende a ser um "falastrão compulsivo", o atrito é certo e líquido. Tezza me ajudou a entender que, no fundo, o leitor descontente é um querido. Vem com pedras na mão, mas só quer contar aquilo que sabe. Não raro, saímos do ringue de braços dados, que bom.

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Quanto a Marcelo Coelho, diz que "não gostar do que leu" é uma experiência mais rica do que gostar. Faz sentido. Gostar é refresco. O não gostar traz aquela sensação irritante de que alguém mexeu com o que estava quieto, e nem pediu licença. Duro é convencer o leitor "emputecido" de que discutir desacordos é o que nos diferencia das coristas de um programa de auditório.

Digo tudo isso a propósito de duas leitoras que me procuraram, não propriamente para me mandar um beijo. Reclamaram de uma frase da crônica "Vilma, as rosas e o casarão da Mateus Leme". Em resumo, o texto trata da casa da família Lindroth, agora restaurada e salva da barbárie imobiliária. Lá pelas tantas, estava a informação que provocou som e fúria. A ela.

No fim dos anos 1950, depois de abrigar os Lindroth e de ser a residência do arcebispo, a mansão virou o pensionato de moças das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado. Internatos de freiras para universitárias eram comuns naquela época. As religiosas mantinham as gurias na rédea curta, para que não caíssem em desgraça. No pior do estilo telefone sem fio, alguém disse que o dito local abrigava as "embaraçadas". Caíram chuvas fortes e trovoadas.

"Eu morei no pensionato e casei virgem. Usávamos anágua. Precisa dizer mais? Você vai levar uma surra de sombrinha", disse-me a pedagoga Georgina Ceci Szezesniak, 73 anos, que atuou no Colégio Lysímaco Ferreira da Costa. "Eu e minhas amigas de internato estamos indignadas", completou a professora da Biológicas da UFPR Irene Silva. Vencida a fase emocional da conversa, partimos para a segunda, que é bem melhor.

A prosa com a espevitada Georgina e com a contida Irene deixou duas hipóteses: 1) O pensionato da Mateus Leme deve ter sido confundido com um outro, que funcionava num casarão do Batel, cujo endereço não conto. Tenho medo de apanhar. 2) As Irmãs de Jesus Crucificado não seguiam a tradição dos conventos europeus. Fundadas no Brasil, não usavam hábito e foram pioneiras ao receber negras nos claustros. Daí a serem vistas como mais liberais pode ter sido um pulo.

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Estou convencido de que deveriam surgir mais estudos relacionados a esses espaços – ajudariam a entender virgindade, casamento, condição feminina. As duas leitoras dizem estar a postos para ajudar. E deixam pistas. Os pensionatos dos idos de 1940 a 1970 custavam uma fábula. Em troca, ofereciam formação confessional e conduta. Seguiam diretórios. As gurias iam a festas, desde que sob a tutela de "controladoras de salão" – religiosas que cuidavam da altura das saias ao vaivém das mãos bobas na pista de dança. Era comum uma moça trocar de internato se o concorrente oferecesse um horário mais flexível, ou permissão para oferecer um café para o namorado, na sala de estar.

Mesmo assim, divertiam-se barbaridade. Estavam longe de casa, dividindo quarto com meninas de outras cidades, com as quais trocavam confidências. "Lembra da Conegunda?", diz uma delas. Não esquecem as missas rezadas pelo capelão, o então padre Pedro Fedalto. As matinês no Cine Luz. As soirées do Thalia. A trilha sonora de suas vidas? Os standards de Beppi e sua orquestra. A melhor sobremesa? Romeu e Julieta, cobrada à parte na mensalidade.

Certa feita, Georgina e duas amigas foram a uma ginecologista. Queriam saber o que acontecia na noite de núpcias. "Durangas", perguntaram se podiam pagar a consulta em três vezes. A médica aceitou o parcelado, mas não contou "o que rolava". O trio teve de se contentar com as conversinhas baixas no dormitório e com a imaginação.

A ex-interna conheceu o marido, Rubens, numa festa de estudantes. No primeiro encontro com o futuro sogro, um libanês, o moço ganhou uma intimação: "Quais são suas intenções?" Deu três passos para trás e se rendeu: "As melhores". Estão juntos faz 50 anos. Quando falam de amor, lembram do baile, da "dura do pai", do tal pensionato da Mateus Leme e se sentem felizes para sempre.

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