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josé carlos fernandes

Uma fábula de Copa

Reforma das arquibancadas do Estádio Durival de Britto, na antiga Vila Capanema, em Curitiba. Aumento do número de lugares foi feito em madeira. O local era usado pelo Atlético Ferroviário e mantido pela Rede Viação Paraná Santa Catarina, depois RFFSA | Fotos do acervo Osni Wendt.
Reforma das arquibancadas do Estádio Durival de Britto, na antiga Vila Capanema, em Curitiba. Aumento do número de lugares foi feito em madeira. O local era usado pelo Atlético Ferroviário e mantido pela Rede Viação Paraná Santa Catarina, depois RFFSA (Foto: Fotos do acervo Osni Wendt.)
Ensaios para uma espécie de show de abertura da Copa de 50 em Curitiba. Os jovens são alunos do Colégio Estadual do Paraná – sem salas de ginástica, usavam as instalações do

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Ensaios para uma espécie de show de abertura da Copa de 50 em Curitiba. Os jovens são alunos do Colégio Estadual do Paraná – sem salas de ginástica, usavam as instalações do

Cena da partida entre Paraguai e Suécia, em 29 de junho de 1950. Fez dia de frio. Público, estimado em pouco mais de 8 mil pessoas mostrou predileção pelo Paraguai. Partida ficou em 2 a 2 |

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Cena da partida entre Paraguai e Suécia, em 29 de junho de 1950. Fez dia de frio. Público, estimado em pouco mais de 8 mil pessoas mostrou predileção pelo Paraguai. Partida ficou em 2 a 2

Cartaz do IV Campeonato Mundial de Futebol, realizado em 1950, no Brasil |

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Cartaz do IV Campeonato Mundial de Futebol, realizado em 1950, no Brasil

Página da Gazeta do Povo em 24 de junho de 1950. Matérias lembram o favoritismo do Brasil na Copa e pedem que leitores mandem telegramas de apoio aos craques. Destaque para o treino dos espanhóis no

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Página da Gazeta do Povo em 24 de junho de 1950. Matérias lembram o favoritismo do Brasil na Copa e pedem que leitores mandem telegramas de apoio aos craques. Destaque para o treino dos espanhóis no

Página da Gazeta do Povo em 25 de junho de 1950.

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Página da Gazeta do Povo em 25 de junho de 1950.

Página da Gazeta do Povo em 27 de junho de 1950. Edição anuncia que Suécia e Paraguai, dali uns dias, será um

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Página da Gazeta do Povo em 27 de junho de 1950. Edição anuncia que Suécia e Paraguai, dali uns dias, será um

Página da Gazeta do Povo em 28 de junho de 1950.

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Página da Gazeta do Povo em 28 de junho de 1950.

Página da Gazeta do Povo em 29 de junho de 1950. Profecia? No alto da página, matéria faz crítica à atuação do goleiro Barbosa. Trata do jogo aguardado – Espanha e Estados Unidos |

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Página da Gazeta do Povo em 29 de junho de 1950. Profecia? No alto da página, matéria faz crítica à atuação do goleiro Barbosa. Trata do jogo aguardado – Espanha e Estados Unidos

Página da Gazeta do Povo em 1.º de julho de 1950.

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Página da Gazeta do Povo em 1.º de julho de 1950.

Paulo Osni Wendt no local exato em que assistiu a Paraguai e Suécia em 1950 |

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Paulo Osni Wendt no local exato em que assistiu a Paraguai e Suécia em 1950

O professor aposentado Paulo Osni Wendt: viver para contar a Copa de 50 em Curitiba |

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O professor aposentado Paulo Osni Wendt: viver para contar a Copa de 50 em Curitiba

Água Verde, 16 de julho de 1950. O rádio de válvulas – da Invictus ou da Mundial? – foi colocado no meio da sala do comerciante Paulo Wendt. Os móveis afastados, para dar espaço aos 45 convidados, gente da vizinhança, os Rubineck, os Zandoná, os Perini ("e o Vadico, não veio?"). Nos fundos da casa, dois barris de chope, para os homens. Na mesa da cozinha, gasosa Cini e bolo de fubá, para as mulheres e os fedelhos. Festa.

Creiam – no pós-Guerra esse cardápio de convento equivalia a um lanche da Confeitaria Iguaçu. Mas era dia de final da Copa do Mundo – vitória anunciada do Brasil contra o Uruguai. E, coincidência, aniversário de 10 anos do guri Paulo Osni Wendt, filho do Paulo Wendt. O pai, dono de posto de gasolina, podia cometer excessos, sem prejuízos à despensa. [Tempos depois, "Wendt pai" seria transformado no mítico "Rei da Noite", eternizado na obra de Dalton Trevisan. Mas naquele julho não passava do pacato cidadão de uma cidade de 180 mil habitantes; mil automóveis, incluindo o seu Mercuri coupé 48; e o equivalente em carroças.]

A gasosa rolava solta. Na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a narração de Antônio Cordeiro e Jorge Curi no estúdio; César de Alencar no campo. Tudo seguia na santa ingenuidade quando o Brasil marcou o primeiro gol. Gritinhos no portão, ecos na Baixada. Continuasse assim, daria até para soltar balão – os mais famosos eram os do Alberto, goleiro do Atlético. Até que entra em cena o desmancha-prazeres.

Aos 20 minutos do segundo tempo, Schiaffino empata: 1 x 1. Aumenta-se o volume. Aos 34 minutos, Gigghia marca 2 x 1. Arranca sem dó o doce da boca das crianças. Nada de cantar "Parabéns..." Silêncio no Maracanã. Silêncio na casa dos Wendt. Isso não se faz. "Nunca esqueci a festa dos meus 10 anos", conta Osni, seis décadas depois do Maracanazo particular. Tem 73 anos, mas ainda é capaz de montar um álbum de figurinhas com sua fábula de infância. O chope acabou pia abaixo. Ninguém soltou balão. O luto fez o Cemitério da Água Verde, ali perto, parecer um parque de diversões do Chico Serrador.

O que dói mais é lembrar que, dias antes da derrota, Osni tinha se tornado uma espécie de "rei da rua". Felizardo, foi o único da redondeza a ir à Copa do Mundo em Curitiba – assistiu a Suécia e Paraguai, num friorento 29 de junho, no Estádio Durival de Britto, então chamado de "o colosso do Capanema". O primeiro jogo tinha sido Espanha e Estados Unidos, 3 a 1, em 25 de junho. Ir ao campo custava os olhos na cara. Daí a turma de calça curta fazer rodinha para ouvi-lo falar dos 8 mil torcedores, da arbitragem de Mário Viana. Por alguns minutos, virou o rádio dos sem-peleja, como então se chamava a partida.

A manchete da Gazeta do Povo anunciava "Sensação na cidade" e "Paraguai merecia vencer". Do lado do anúncio "Exame de escarro", do laboratório Odeani, o jornal narrava os feitos dos suecos Svensson, Nordhail e Palmer, quase chapas do Osni, o maioral: vira de perto os craques da "esquadra paraguaia", a "pelota" balançar a rede, o arqueiro, os shootes. Contou tudo, com ênfase, depois convidou a turma para um café, dali uns dias, em 16 de julho...

Há pouco tempo, voltou ao "Durival de Britto" e se deixou fotografar no local em que acompanhou a Copa de 50. Na emoção, botou anúncio, atrás de quem, como ele, tinha ido aos jogos. Propunha um jantar– quem sabe, no inconsciente, preparava uma reedição da festa fracassada. Recebeu duas respostas, só. Obrigou-se a fazer contas: quem tinha 20 anos naquela época agora beira os 84; os de 30... 94 anos. Tinha 10 e, se bem lembra, não havia outros como ele por lá. Entendeu ter vivido para contar aquele dia. Eis seu presente de aniversário.

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