Deu na britânica BBC. Cientistas das mais variadas matizes têm se esforçado para criar tecnologias que permitam o backup de nossos cérebros. A ideia é de que cada um de nós possa salvar cópias de nossas próprias memórias de maneira artificial para que, no futuro, não tenhamos mais aquele velho problema de sair de casa para comprar presunto na padaria e, em vez disso, voltar com meia melancia debaixo do braço, comprada na quitanda.
A maior dificuldade dos pesquisadores é conseguir organizar as memórias em ordem para que o protótipo de cérebro possa buscar informações de maneira rápida e certeira. Ou seja, deixar tudo organizadinho, exatamente o que nosso cérebro não faz. Quando nos lembramos de algo, recebemos um estímulo que faz com que nossa mente vá pescar informações em um imenso caldeirão de memórias que temos em nossa cabeça. O cérebro, como nós mesmos, é capaz de se encontrar em sua própria bagunça. Mas uma mente artificial levaria muito tempo para achar qualquer coisa nessa gaveta entupida que levamos na cabeça.
O cérebro, como nós mesmos, é capaz de se encontrar em sua própria bagunça. Mas uma mente artificial levaria muito tempo para achar qualquer coisa nessa gaveta entupida que levamos na cabeça
Por sinal, nosso cérebro mesmo nem sempre é tão eficiente nessa busca. Quem nunca foi para o trabalho de carro, deixou o veículo no estacionamento, pegou o tíquete, pôs no bolso e voltou para casa de ônibus? Tudo bem, só eu mesmo. Mas isso prova que esse tal backup tem de ser feito no longo, médio, curto e curtíssimo prazo.
Outro conhecido meu anda ainda mais necessitado desse tal backup. Há cerca de um ano, perguntaram a ele por onde andava o Claudinho, uma das grandes lendas do meu círculo de amizades. E ele não perdeu a oportunidade de sacanear o autor da pergunta. “O Claudinho? Pô, cara, você não sabe? O Claudinho foi morar no Mato Grosso”, lascou, pensando que o cara iria sacar logo que aquilo era a mais pura marotagem, visto que o Claudinho nunca morou fora de Curitiba.
Passou um ano e os personagens desse diálogo se reencontraram. E mais uma vez o Claudinho foi o tema do bate-papo. Só que agora com papeis trocados. Esse meu conhecido perguntou ao cara a quem havia dado informação errada por onde andava o Claudinho. No que foi devidamente informado de que o Claudinho, aquele que nunca deixou Curitiba, claro, estava morando no Mato Grosso. Só deixou de acreditar na mentira que ele mesmo havia criado quando ligou para o Claudinho, o próprio, sem precisar usar nenhum código de DDD, usando o número que seguia gravado no celular, a melhor memória artificial que pode existir no momento.