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A volta da prensa de vinil da extinta gravadora Continental já entrou para o grupo das histórias mais legais de 2016. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo semana passada, o maquinário de duas toneladas que estava largado em um ferro-velho da capital paulista está na fase final de reforma e, dentro de mais alguns meses, passará a produzir 140 mil discos por mês pela empresa Vinil Brasil - mais do que o triplo da única fabricante em atividade no país, a Polysom, com capacidade de 40 mil discos por mês.

Tão bacana quanto a retomada dos bolachões em si e o renascimento da prensa que enferrujava há 20 anos é o retorno à ativa dos antigos técnicos de gravadoras que nem sequer existem mais, como a RCA. Um deles chega a ser categórico na reportagem: nas duas últimas décadas, período em que rodou por indústrias de diversos setores, nunca recebeu uma ligação tão boa quanto à do proprietário da Vinil Brasil, o produtor e DJ Michel Nath, o convidando para voltar a guiar uma prensa na produção dos bolachões.

Tenho certeza que todas as pessoas que trabalharam nessas áreas voltariam fácil, fácil. Afinal, sempre é bom fazer o que se gosta

Não há como fugir do clichê: o retorno dos profissionais a uma indústria que estava dada como praticamente morta, mas que em 2015 teve crescimento de 30%, daria um bom roteiro de filme. Ou, no caso, lembra alguns bons filmes, de personagens que, pelas forças das circunstâncias, não acreditavam voltar a fazer aquilo de que gostavam. Tanto que na hora em que li o jornal me lembrei de três películas.

Primeiro, de Cowboys do Espaço, de 2000, em que Clint Eastwood interpreta um coronel reformado da Força da Área que recruta três companheiros de uma missão espacial malfadada no fim do anos 50 para, já velhos, finalmente realizarem o sonho de ir para as estrelas. O objetivo era desativar um satélite soviético, cuja tecnologia era tão antiga que só a equipe de astronautas vovôs detinha conhecimento para a missão.

Outro filme que me lembrei foi Os Irmãos Cara de Pau, a comédia musical de 1978 em que James Belushi e Dan Aykroyd interpretam dois picaretas que, ao saírem da cadeia, decidem ir atrás dos antigos companheiros da banda de blues que tinham antes de serem presos para fazer shows e arrecadar dinheiro para o orfanato em que foram criados.

O terceiro filme que me veio à cabeça foi A Cor do Dinheiro, clássico da filmografia do diretor Martin Scorsese, de 1986, em que Paul Newman volta ao personagem Eddie Felson, que já havia interpretado em Desafio à Corrupção, de 1961. Ao conhecer o jovem talentoso, mas intempestivo, Vincent Lauria (Tom Cruise), Felson decide não só retornar ao mundo das apostas, mas também acaba ele mesmo voltando a jogar, para a surpresa dos velhos conhecidos do pano verde.

Ler sobre os técnicos de gravadoras que estão voltando ao trabalho e recordar esse três filmes é bastante sintomático neste momento em que o avanço das tecnologias levam não só ao fechamento de vagas de trabalho, mas também ao fim de algumas profissões propriamente ditas. Muita pouca gente, por exemplo, hoje leva filmes fotográficos para revelar. Frequentar locadoras de filmes atualmente parece uma viagem no tempo. Oficinas de máquinas de escrever já não devem mais existir

Mas vai que numa dessas voltas da vida tudo isso venha à tona novamente. Tenho certeza que todas as pessoas que trabalharam nessas áreas voltariam fácil, fácil. Afinal, sempre é bom fazer o que se gosta, mesmo quando a atividade já não existe mais.

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