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marcos xavier vicente

Desenrola, Luxemburgo!

Nelson Rodrigues dizia que o Fla-Flu surgiu 40 minutos antes do Nada – há, inclusive, um ótimo documentário com esse título em que torcedores de Flamengo e Fluminense entrevistam ídolos do rival. Eu, de férias no Rio mês passado, cheguei dez minutos atrasado ao clássico carioca.

Após pagar a facada de R$ 100 pelo ingresso, adentrei ao novo e moderno Maracanã com meu amigo Cristiano. Nosso setor era misto, rubro-negros e tricolores sentados lado a lado – algo ainda impensável para os padrões paranaenses de civilização. Perto da gente, acompanhado do filho de uns cinco, seis anos, um sósia do saudoso Mussum, dos Trapalhões, vestido de vermelho e preto dos pés à cabeça.

Nelson Rodrigues dizia que o Fla-Flu surgiu 40 minutos antes do Nada

A bola já rolava e o gurizinho não escondia a impaciência. A cada minuto perguntava quando o Flamengo marcaria gol. O pai, sem tirar os olhos do campo e não muito satisfeito com o que via do time, pedia calma ao pequeno. “O gol já vai sair, Gui. Já vai sair”.

Mas a aflição do menino só aumentava. Tanto quanto a do pai com o volante Luiz Antonio, que errava um passe atrás do outro. “Tira esse pereba do Luiz Antonio!”, gritava ao técnico do Flamengo, Vanderlei Luxemburgo.

Lá pela sétima ou oitava vez que ouvi o guri pedir gol, o pai teve uma das maiores sacadas que já presenciei. Tirou do bolso o celular, fingiu discar um número qualquer e começou o “diálogo” a seguir:

“Alô, Luxemburgo? Fala mermão! Sei que tu tá ocupadão aí com o jogo, mas pede pro time fazer logo um gol, porque o Gui aqui do meu lado e não para de pedir gol do Mengão. O Gui é moleque sangue bom, tu sabe, só tira nota boa na escola. Faz um gol pra ele, aí, compadi. Desenrola essa parada, Luxemburgo! E vê se tira o Luiz Antonio! Luiz Antonio não dá! – suplicou o pai, com o menino com os olhos deste tamanho, sem acreditar que o pai estava falando com o próprio técnico rubro-negro.

“Relaxa, Gui. O Luxa disse pra tu ficar tranquilo que o gol já vai sair. Segura aí, moleque!” – continuou o pai.

E o menino confiou. Confiou tanto que nem dois minutos depois o Flamengo realmente marcou gol, o primeiro da vitória por 3 a 0.

“Não te disse, Gui. Foi do jeitinho que o Luxa me falou. Eu já sabia que ia ser gol, mas não quis contar pra não estragar a festa” – estendia a mentirinha o pai, enquanto abraçava o menino eufórico.

Mais dois gols em que o pai, é claro, disse ao filho que já sabia que seriam marcados, fim do jogo e os dois desceram sorrindo a mítica rampa de acesso da estátua do capitão Bellini no meio da multidão aos gritos de Meeeeengooooo!

Noventa minutos depois de o Fla-Flu surgir do nada para mim aquele domingo, viver a alegria da vitória em um clássico era tudo para aquele pai e filho – apesar do Luiz Antonio...

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