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chico marés

Faça pudim, não faça guerra

Uma das coisas de que eu mais gosto na internet é a existência do pudim.com.br. Em algum momento no início da popularização da web, algum brasileiro com um senso de humor bem estranho resolveu comprar o domínio e lá hospedou uma singela foto mal tirada de um pudim, e apenas isso. Pior: paga do próprio bolso para manter a piada. É uma daquelas coisas que tem graça justamente por não ter graça nenhuma. Eis que, na semana passada, o pudim foi vítima dos hackers do Estado Islâmico.

Não que o EI tenha graça alguma – sob qualquer ponto de vista. Mas é bem curiosa a curadoria de sites brasileiros que eles resolveram atacar nos últimos meses. Além do pudim, fiquei sabendo de outros dois. A primeira vítima foi o site do XV de Jaú, um clube do futebol que só existe na saudosa memória de quem assistia ao campeonato paulista nos anos 90 – e, claro, dos moradores de Jaú. Desde 2013, o time não está nem em atividade; mesmo antes disso, havia mais de 15 anos já não figurava na elite do Paulistão.

Só o fato de isso ter sido descoberto já é estranho. Quem, em 2015, tem algum motivo para acessar o site do XV de Jaú? Não que eu esteja julgando o sujeito que trombou com a invasão; antes de começar a escrever essa crônica, passei uma hora lendo sobre as diferenças entre calendários vigentes no mundo. A internet tem dessas coisas.

Depois disso, nós, os paranaenses, aparecemos no rol dos invadidos. Eles derrubaram o site da Setransp, sindicato das empresas de ônibus de Curitiba. Mais uma vez, a relação de causa e consequência é um mistério. Nunca vi um militante do EI na fila do tubo.

É bem curiosa a curadoria de sites brasileiros que o Estado Islâmico resolveu atacar

Aparentemente, essa aleatoriedade na escolha dos alvos não é uma coisa brasileira. No exterior, há relatos de invasão a sites de clubes da quarta divisão inglesa, de embaixadas de países aleatórios em países inóspitos e toda sorte de sites que quase ninguém acessa. E, claro, não é o Califa Ibrahim que faz a curadoria: essas invasões estranhas partem de simpatizantes, soldados rasos da internet, e são incentivadas como forma de divulgar a “marca”.

Tudo isso me deixou curioso demais por uma explicação detalhada. Talvez seja esse justamente o ponto: ganhar visibilidade pelo absurdo. É o tipo de coisa que ninguém nunca vai entender ao certo, até porque ninguém vai perder tempo investigando.

Mesmo na internet, as atividades do EI costumam ser mais sérias, incluindo invasão de redes militares de países ocidentais. Há, também, toda a estratégia de recrutamento on-line. Coisas que realmente devem ser investigadas – isso sem contar toda a barbárie da vida real.

Mesmo sabendo disso, não consigo deixar de imaginar que tem algum brasileiro por aí com mais senso de humor que senso do perigo matutando estratégias para dar uma sacaneada. “Olha aqui, Califa, esse site do pudim é o centro nevrálgico da CIA, se vocês derrubarem vai ser show de bola”.

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