Dizem que o Dia dos Pais na Inglaterra, comemorado em junho, não em agosto, como aqui no Brasil, é bem sem graça. Se você receber neste domingo mais um par de meias ou outro cinto de seu filho, lembre-se de que na terra da rainha a coisa é bem mais simplória. No máximo um cartão. E olhe lá.
Talvez o único lar inglês onde a data seja um pouco mais animada é no endereço dos McCartney. Isso desde os tempos em que o chefe da família era James McCartney, o velho Jim, que após a morte da esposa, Mary Mohin McCartney, vítima de câncer no seio, cumpriu bem o papel de criar sozinho dois filhos adolescentes: o caçula Michael McCartney e o mais velho, James Paul McCartney – aquele mesmo, o rapaz dos Beatles.
Se Paul McCartney é o cara mais descolado do show business desde que passou a empunhar seu baixo Höfner no começo dos anos 60, deve muito à influência do pai. Aquela piscadela para o público sempre que conta uma piada nos shows, por exemplo, herdou do velho. Era assim que Jim também conquistava as pessoas que lotavam o salão de festas e as sedes dos sindicatos do bairro de Everton, em Liverpool, nos anos 30, para ver sua banda de jazz, a Jim Mac’s Band, da qual era o pianista.
Se Paul McCartney é o cara mais descolado do show business, deve muito à influência do pai
A piscadela também era a tática do McCartney pai para quebrar o gelo quando a tristeza se abatia sobre os filhos na ausência da mãe na hora do jantar. “Na próxima, vou melhorar”, dizia antes de piscar para os garotos diante de uma piada ruim.
Jim McCartney casou-se tarde, já perto dos 40. Antes, era um dos mais famosos boêmios de Everton. O fato de trabalhar muito e receber quase nada nas mais variadas funções – vendendo programas de espetáculos no teatro, transportando tecido, como encanador ou vendedor de algodão – nunca fez com que perdesse o gosto pela diversão. Tanto que ele adorava quando Paul aparecia em casa com os amigos John e George para ensaiar, ainda na fase pré-Beatles.
Nem mesmo a guerra foi capaz de frear o ímpeto boa-praça de Jim. Aliás, foi justamente durante um bombardeio da Segunda Guerra que ele conheceu a esposa. Mary Mohin havia ido visitar a amiga Jin McCartney, irmã de Jim, em uma noite de 1940, quando as forças alemãs mais uma vez começaram a despejar bombas em Liverpool. Todos se abrigaram no sótão. Geralmente as sirenes de alarme tocavam apenas alguns minutos, se estendendo por no máximo uma ou duas horas. Naquela noite o ataque foi mais intenso, o que forçou o grupo a passar a noite no abrigo.
Sorte que Jim McCartney estava lá. Ele passou a noite conversando, contando piadas e acendendo cigarros para Mary. O jeitão descomplicado do rapaz, mesmo com bombas caindo do céu, fez com que a moça se apaixonasse. Um ano depois estavam casados.
Logo após a morte de Mary, quando Paul tinha 14 anos, Jim o presenteou com um trompete. O guri gostou do presente, mas pediu ao pai se poderia trocar por um violão, porque assim poderia tocar e cantar. Jim não ficou chateado, mas deu um conselho: “Aprenda a tocar um instrumento, e você nunca mais vai deixar de ser convidado para uma festa”. Graças ao conselho de seu velho pai, a festa nunca mais terminou para Paul McCartney.