Tanto quanto o filme em si, é muito bom rever Michael Keaton no papel de um jornalista em Spotlight – Segredos Revelados, longa do diretor Tom McCarthy, indicado a três Globos de Ouro, eleito o melhor filme de 2015 pela Associação dos Críticos de Cinema dos Estados Unidos e candidato a vencer o Oscar mês que vem.
Graças ao ator americano, há 20 anos escolhi qual opção preencheria na inscrição do vestibular e, consequentemente, qual seria minha profissão. Isso depois de passar na locadora de vídeo e assistir a O Jornal, filme de 1994 em que Keaton faz sua primeira incursão cinematográfica dentro de uma redação.
Ao ver o personagem de Keaton orientando repórteres, contatando fontes, lidando com prazos de fechamento de edição e indo ele mesmo a campo atrás de notícias, achei que ser jornalista seria muito mais divertido do que fazer plantões em hospitais como médico ou passar os dias com a cara enfiada em processos como advogado, opções que até então passavam pela minha cabeça.
Henry Hackett e Walter Robinson, os jornalistas interpretados por Keaton respectivamente em O Jornal e em Spotlight, têm bastante em comum – mesmo um sendo personagem de uma comédia que é ficção e o outro de um drama que relata uma história real. Ambos são jornalistas até a medula. E é sempre agradável ver um bom ator interpretando aquilo de que você gosta.
Em O Jornal, Hackett é o editor em ascensão de um jornal em crise de Nova York. O personagem abdica de uma boa proposta de trabalho em um diário de economia para ajudar os colegas de redação a investigar a acusação injusta de assassinato contra dois jovens. Em Spotlight, Robinson é um editor experiente que comanda uma equipe de repórteres especiais do The Boston Globe que trabalham exclusivamente com matérias investigativas. No filme, a equipe, chamada de Spotlight (holofote), apura casos de pedofilia cometidos por padres, o que culminaria em um escândalo mundial na igreja católica no início dos anos 2000.
No roteiro dos dois filmes, o público tem a oportunidade de acessar as entranhas das redações e perceber na interpretação de Keaton algo que passa despercebido aos leitores de jornais: a importância de um bom editor na condução de uma reportagem.
Um editor corajoso, que não só orienta, mas que também incentiva e banca a equipe de reportagem a ir além nas apurações, faz toda a diferença no processo jornalístico. Tal e qual o técnico de futebol: há os que botam o time no ataque para vencer e os que preferem jogar na retranca com medo de perder.
Michael Keaton interpreta tão bem o papel do editor Walter Robinson em Spotlight , que só reforça o que pensei em 1996 quando o assisti ainda nos tempos do videocassete em O Jornal : ser jornalista é uma aventura tão intensa até para quem já foi o Batman.
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