Dois dias depois do Dia do Fotógrafo, comemorado na última sexta-feira (8), o paparazzo mais famoso do mundo completou 85 anos neste domingo (10). Agora um senhor de idade avançada, que precisa de bengala para andar, o americano Ron Galella já não consegue mais subir em muros e árvores e nem correr equilibrando uma câmera nas mãos atrás de gente famosa.

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Galella passa os dias cuidando do jardim de gosto duvidoso em sua casa, em Nova Jersey, com plantas de plástico e um cemitério de coelhos, sua maior paixão ao lado da fotografia. No jardim da residência também está uma calçada da fama em que a única celebridade a ter as mãos marcadas numa placa de concreto é ele mesmo. Até porque as celebridades de fato sempre quiseram distância dele.

Quando foi para a Guerra da Coreia, nos anos 50, Galella achou mais interessante empunhar uma máquina fotográfica a um rifle. Depois do conflito, cursou fotojornalismo na Art Center College of Design, em Los Angeles, e de lá foi direto para o seu grande estúdio: as ruas.

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Como os famosos ainda não tinham o hábito de ser ciceroneados por assessores e seguranças quando saíam de casa e geralmente frequentavam os mesmos lugares, não era tão difícil para ele encontrar os alvos de suas imagens no começo da carreira. Ou seja, se hoje o público e a própria imprensa mal conseguem se aproximar das personalidades, muito se deve a Galella, que, sem querer, criou o mercado dos paparazzi, do qual ele mesmo pouco lucrou.

O trabalho de Galella, como o de todo fotógrafo que registra imagens de gente famosa sem autorização, pode até ser questionado por atingir a intimidade das pessoas. Mas uma coisa é fato: algumas das imagens clicadas por ele são verdadeiros ícones do século 20. Tanto que já foram expostas no Tate Modern, em Londres, e no MoMA, em Nova York.

Uma delas é da ex-primeira dama Jacqueline Kennedy Onassis, que chegou a obter na Justiça um mandado obrigando o fotógrafo a manter distância de 45 metros dela. Ao sair para caminhar certo dia em Nova York e ver o fotógrafo, Jackie correu e pensou que havia se livrado do paparazzo. Mas Galella havia entrado em um táxi e, ao se aproximar da ex-primeira dama, pediu ao motorista que buzinasse. Jackie virou o rosto automaticamente para ver de onde vinha o alerta, tempo suficiente para Galella registrá-la caminhando com os cabelos ao vento, no que considerou a melhor foto de sua carreira, a sua Monalisa particular.

Com Marlon Brando a desavença foi mais direta. Em 1973, o ator quebrou com um soco o maxilar e cinco dentes do fotógrafo, que insistia para que o astro de O Poderoso Chefão tirasse os óculos escuros. Galella processou Brando e o caso virou referência em escolas de Direito. “Não queria que ninguém se achasse no direito de me dar porrada”, esclarece o paparazzo no documentário Smash his camera, de 2010. Mesmo com a Justiça ao seu lado, Galella resolveu se precaver no encontro seguinte: foi fotografar Brando usando um capacete de futebol americano para preservar o queixo recém-recuperado.

Hoje, o mais próximo que Galella se aproxima dos tempos áureos é cobrir algum evento com artistas. Quando chega, é engolido pela massa de fotógrafos com equipamentos muito mais modernos que os dele e que mal sabem que com muito menos aquele velhinho revolucionou a cobertura fotográfica de personalidades.

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