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marcos xavier vicente

Olimpíada, sim ou não

Semana passada, Hamburgo foi a quarta cidade a desistir dos Jogos Olímpicos em menos de um ano. Em plebiscito, a maioria dos moradores da cidade alemã (52%) discordou da proposta de se gastar 7,4 bilhões de euros (cerca de R$ 30 bilhões) para sediar a Olimpíada de 2024. Antes, Boston (EUA) também havia dito não à disputa de 2024, assim como Estocolmo (Suécia) e Oslo (Noruega) abriram mão da Olimpíada de Inverno de 2022. A desistência das quatro cidades tem o mesmo argumento: os respectivos governos têm outras prioridades.

Para a Rio 2016 estão sendo investidos R$ 38,2 bilhões. Do total, R$ 24,6 bilhões são em infraestrutura, como a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), a ampliação da linha 4 do metrô, o BRT e a revitalização da área portuária. Obras que ficarão de herança para a cidade, mas que, na realidade, deveriam estar nos planos da prefeitura independentemente de a cidade ser sede olímpica.

Mas, para o Brasil, até certo ponto, a Olimpíada é benéfica. Como explicou o diretor de projetos da Empresa Olímpica Municipal (EOM, órgão da prefeitura que toca as obras da Rio 2016), o engenheiro Roberto Ainbinder, em agosto, os Jogos servem de antídoto para a burocracia: “A Rio 2016 está sendo uma oportunidade gigante para a cidade tirar das gavetas empoeiradas projetos que não conseguiam ser viabilizados por uma série de entraves burocráticos”.

Para o Brasil, até certo ponto, a Olimpíada é benéfica

Há de se levar em conta também que a atuação do COI é bastante diferente da preparação da Copa. Como defende o prefeito Eduardo Paes, a Fifa está interessada em estádios, aeroportos e hotéis. Já o COI mantém equipes técnicas em constantes visitas à cidade-sede para monitorar o andamento das obras de infraestutura, o trânsito, entre outras coisas.

O que não quer dizer que a organização da Olimpíada seja necessariamente um avanço para a cidade que a sedia, como em Barcelona em 1992. A conta de Atenas 2004 ajudou consideravelmente na quebra da economia grega. A Rússia, como o Brasil na Copa 2014, esbanjou dinheiro em elefantes brancos nos Jogos de Inverno do mesmo ano. E Pequim volta a receber a comunidade olímpica nos Jogos de Inverno de 2022 em áreas onde nem sequer há neve, o que exigirá produção artificial.

Para que isso não se repita, o COI aprovou no fim de 2014 a Agenda 2020. O projeto pretende reduzir gastos para que as cidades sediem a Olimpíada. Um dos principais pontos é a utilização de estruturas já existentes ou provisórias na disputa. Medidas que o Rio, de certa forma, já tomou, como a decisão de não construir um estádio olímpico e a destinação de locais de provas para áreas sociais, como a Arena do Futuro, cuja estrutura após os Jogos servirá para a construção de quatro escolas.

Projeto semelhante passa bem longe da Fifa e seus dirigentes interessados em artimanhas para encher os próprios bolsos. Porque de bobos o futebol só tem os torcedores.

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