A prefeitura de Paris que me perdoe, mas que ideia chocha essa de substituir os cadeados dos casais apaixonados na Ponte das Artes por fotos enviadas ao site Love Without Locks (do inglês, “amor sem cadeados”).
Tudo bem, os cadeados realmente estavam pondo em risco quem passava pela ponte. Mereciam mesmo ser retirados. Era aproximadamente um milhão deles, espalhados pelos 155 metros da ponte. O peso era o equivalente a quase 45 toneladas, uma carga maior do que o que a via sobre o Rio Sena fora projetada para suportar.
Os casais que não percam a esperança. Há outros locais, outras pontes, outras fontes para depositarem seus cadeados
A graça de deixá-los lá era justamente a possibilidade de os casais poderem um dia voltar à Cidade Luz, tentarem reencontrar o objeto e, no cenário mais propício para isso, que é a capital francesa, renovarem seus votos de amor. Mas não vai mais rolar – a busca pelo cadeado na Ponte das Artes, porque a renovação do amor vai do comportamento de cada um enquanto integrante de um casal, independentemente do lugar.
De agora em diante, a coisa em Paris vai ser na base da foto. Abre o site, dá uma conferida se a imagem que você postou – clicada na Ponte das Artes, obviamente – está no ar e acabou. Nada de firmar o compromisso de sentir o coração pulsar mais forte novamente em Paris (PARIS, mes amis!) à procura do cadeado deixado lá. Sem contar a Torre Eiffel e, claro, o pacote vinho e jantar romântico, porque o cadeado é de ferro, mas a rapaziada, não. Ou seja, sem toda aquela sensação que a internet até tenta, mas não proporciona.
A solução da prefeitura parisiense poderia ter sido outra. Talvez a criação de um local com estrutura projetada para suportar o peso dos cadeados. E também do amor, que, quando correspondido, é leve.
Mas os casais que não percam a esperança. Há outros locais, outras pontes, outras fontes para depositarem seus cadeados com os respectivos nomes gravados.
Dia desses mesmo, passando em frente a um restaurante, notei uma fonte dessas que o proprietário do estabelecimento instala só para dar um ar mais esnobe ao lugar. No gradil, alguns cadeados pendurados. No fundo do minilago da fonte, que estava mais para uma bacia rasa com água, descansavam as chaves que cerraram o carinho dessas pessoas umas pelas outras.
Na hora, me perguntei o que levaria aqueles casais a acreditarem que uma fonte toda mal feita, torta, sem charme, que soava completamente falsa, poderia ser a guardiã de seus sentimentos. E a resposta me veio logo mais adiante: o amor verdadeiro.