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marcos xavier vicente

O Uruguai e o tempo

A gente aqui no Brasil já não se espanta mais porque, apesar de proibido, quem quer consumir maconha não encontra maiores dificuldades nas grandes cidades. Basta uma circulada pelas praças de Curitiba, por exemplo, para constatar que a erva está na boca da rapaziada.

Situação igual à do Uruguai, com a diferença de que lá fumar cannabis é liberado pela Justiça desde o ano passado. Ou seja, se a polícia passar na hora em que o cidadão estiver tragando o chamado cigarrinho de artista aqui no Brasilzão, vai ser enquadrado. Lá pelas bandas da antiga Colônia Cisplatina, os homens da lei nem estranham mais. Passam reto, como se nada estivesse acontecendo. Até porque, como lá está autorizado, realmente nada de anormal acontece se alguém fuma maconha.

Ver um policial passar do lado de alguém que está puxando fumo e ele não fazer nada soa estranho para nós, brasileiros, que estamos acostumados à reação instantânea da Polícia Militar nesses casos. Mas essa não é a única coisa diferente que você vai ver se decidir visitar o Uruguai.

No Uruguai, torce-se como nos tempos em que estádio não era arena

Montevidéu é uma cidade que parece ter parado no tempo. A capital uruguaia conseguiu manter seu charme sem ter de se render à arquitetura moderninha de edifícios com nomes estrangeiros criados por equipes de marketing de construtoras. A “modernidade” das pichações até existe nas paredes montevideanas. Mas nada que se compare à infestação de mensagens inelegíveis que encontramos aqui nos nossos muros.

A população do país vizinho também parece viver em outro ritmo. Nos fins de tarde dos dias de semana, em vez de multidões de zumbis abduzidos por telas de celulares a caminho de casa, o que se vê são pessoas conversando umas com as outras nas calçadas, nos pontos de ônibus, nos cafés, nos bares. E nada de correria.

Na escadaria do bonito prédio do Congresso uruguaio, jovens deixam a opção de bater perna no shopping de lado para se reunir em frente à casa de leis do país após o expediente ou a escola para jogar conversa fora, paquerar, tomar um mate e, por que não, fumar um cigarro de maconha – lembremos mais uma vez que lá isso é tão permitido quanto a cervejinha no boteco.

Sábado e domingo é bom estar preparado, porque o comércio todo de Montevidéu fecha e não há muito o que se fazer, além de passar o dia na rambla, o calçadão à beira da praia, ou em um dos parques da cidade.

Se der sorte, tem algum jogo do Campeonato Uruguaio no lendário Estádio Centenário. E até nisso eles parecem ter parado no tempo. No Uruguai, torce-se como nos tempos em que estádio não era arena e em que gritar para empurrar seu time em campo era mais prioridade do que ter uma confortável cadeira marcada para assistir à partida, como se estivesse no teatro.

A sensação é de que a população do Uruguai não padece dessa pressa, dessa urgência que o mundo moderno cobra de nós, brasileiros e de tantas outras nações, a um preço tão alto. E com certeza essa lentidão não é efeito da maconha.

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