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Há sete anos, em um da­­queles discursos improvisados que ainda provocarão a Terceira Guer­­ra Mundial, o presidente Lula disse que a cidade de Windhoek, na Namíbia "não parece que está em um país africano", de tão limpa e tão bonita arquitetonicamente. Bola fora, é claro, mas assumo que sou tentada a dizer o mesmo de Johannes­­­burgo, a cidade onde a Seleção fará seus primeiros jogos na Co­­pa da Áfri­­ca do Sul. Passei três dias lá há uns 8 anos. Também achei estranho aquele pedaço de Europa, de arquitetura elegante e ruas perfeitas, no sul da África. Há favelas e dizem que o centro é perigoso. O que me faz crer que Johan­­nesburgo seja muito parecida com Curitiba. Aqui temos bair­­ros de aparência incrivelmente próspera, temos favelas e sempre recomendamos aos visitantes que se agarrem às bolsas quando caminham pelo centro. A experiência que tive em Jo­­hannesburgo e que não tive aqui (pelo simples fato de que esta é a minha cidade) é ouvir os conselhos rigorosos dos moradores, que querem evitar que você, tu­­rista, seja vítima de violência.Em Johannesburgo, ao sair de uma feira, perguntei a alguns sul-africanos em que direção devia caminhar para chegar ao hotel, que sabia estar bem próximo. A resposta foi sempre "pegue um táxi". Como gosto muito de caminhar, insisti na pergunta. E eles insistiram na resposta. Nin­­guém me deu uma dica sequer sobre a direção a seguir: "pegue um táxi" – diziam todos. E ponto final. O silêncio podia ser lido como "pare de ser teimosa, turista boba, que você vai ser assaltada e depois vai dizer para o mundo inteiro que a África do Sul é violenta".

Passei pela mesma situação, anos antes, em Salvador. Em um fim de tarde, depois de caminhar pelo Pelourinho, perguntei para o porteiro de uma repartição pú­­blica onde era o ponto de ônibus da linha tal, que me levaria ao hotel. O moço falou muito mais que os sul-africanos (brasileiro falar pouco quando pode encompridar a conversa? Nem pensar). Me disse que era perigoso andar sozinha e que eu não devia ir até o ponto de ônibus. Insisti, ele negou a informação. Já estava com vontade de xingá-lo por me proteger tanto, quando ele arranjou uma solução. Deu a um colega a tarefa de me escoltar até o ponto de ônibus. E lá fui eu, acompanhada por um baiano falante que eu nunca tinha visto antes e que acenou muito quando embarquei no ônibus.

Mas nada se compara com a experiência que vivi na riquíssima São Paulo. A empresa onde eu trabalhava mantinha um segurança parrudo e uniformizado na rua, a espera dos funcionários que deixavam o carro no estacionamento há uma quadra do portão de entrada. Ele nos acompanhava até o portão para evitar que fôssemos vítimas de alguma violência enquanto caminhávamos... uma quadra! Sim, precisávamos de escolta para caminhar uma quadra em uma via de aparência tranquila e nome irônico: Rua da Paz. Pois havia uns teimosos que preferiam estacionar na rua e, de vez em quando, um deles sofria sequestro-relâmpago. Por isso a estratégia mudou e o segurança passou a vigiar a quadra de mo­­to. Até que um dia foi abordado por homens armados que levaram a moto.

É tudo tão absurdo que você pode achar que estou inventando. Nem um detalhezinho se­­quer, caro leitor. É tudo verdade. E conto tudo isso para dizer que essa é uma perda gigantesca: não poder andar na rua despreocupadamente, seja em que cidade for, é triste, muito triste.

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