No início da semana fui ver a Filarmônica de Israel no Teatro Positivo e, como o leitor já deve saber, mais da metade das poltronas estavam vazias. Havia um branco completo à esquerda do palco. Quando notei que ninguém mais iria entrar e que os músicos e o maestro iriam ver o teatro vazio, que iriam se sentir desprestigiados, senti vergonha. Como se eu, que estava lá, fosse responsável por todos que poderiam ter ido e não foram. Sensação boba que já tive outras vezes e que não confessaria a ninguém. Mas os três amigos que também foram ao teatro me contaram que ficaram constrangidos diante da plateia vazia que o maestro Zubin Mehta encontrou. Não sou maluca, então. Ou sou maluca, mas não a única.
Começa o concerto e minha atenção é atraída pelo músico que toca pratos. O homem gordo ficou imóvel a maior parte do tempo. Quando a partitura de Strauss mandava, entrava com um toque estrondoso. Cada vez que ele se mexia, eu ficava atenta, com medo que errasse. Se errasse, dificilmente eu notaria porque não entendo nada de composições sinfônicas. Vou a concertos porque gosto de música, mas continuo sendo uma ignorante incapaz de distinguir fá de si.
Sempre fico temerosa pelos músicos, pelos bailarinos, pelos atores e pelos atletas. Pessoas que, depois de treinar anos a fio, têm de apresentar seu trabalho em público, em poucos minutos ou horas, provocam em mim essa empatia esquisita, uma hipotética responsabilidade por pessoas com as quais não tenho nenhuma conexão concreta.
Ao ver a Lina Vieira iniciando seu depoimento na Comissão de Constituição e Justiça do Senado na terça-feira, voltou-me essa sensação. Por um segundo, me senti na pele dela, em frente daquele bando de lobos talvez não muito inteligentes, mas certamente muito espertos. Se fosse eu que estivesse ali, estaria tremendo, mesmo que não tivesse nada a esconder e pudesse provar com fotos, filmes e impressões digitais que havia me encontrado com a ministra. Pois não é que a Lina Vieira se saiu melhor que os senadores que tentavam colocá-la contra a parede? A mulher parecia calma, inabalável.
Muito mais "abalável" é o senador Pedro Simon, que brandia protestos com energia, seu rosto revelando o peso da idade e, provavelmente, o peso de passar tanto tempo cercado pelos absurdos do Congresso. Com Pedro Simon, vem outro tipo de identificação. Ele parece se indignar como nós, que estamos do lado de cá da vida pública. Nós, eleitores e cidadãos, que ficamos indignados com a desfaçatez dos nossos "representantes" e com a nossa incapacidade de interferir. É arriscado falar bem de homens públicos porque sempre temos medo de que eles nos decepcionem no mês seguinte. Mas se não reconhecermos as qualidades de nenhum deles, igualamos os bons e os maus. Simon, do lado de lá, interfere em voz alta, exibindo seu sotaque gaúcho e sua revolta, que se parece com a nossa. Se eu o visse pessoalmente, acho que teria medo dele, que parece sempre bravo, e nem me aproximaria. Mas é um alívio saber que ele existe.
Marleth Silva é jornalista.
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