Foi a definição mais direta e singela de amor conjugal que já ouvi. Estávamos em um almoço de família com parentes que não se encontravam com frequência. Meu irmão contava uma de suas piadas, daquelas que ele inventa e que por isso soam frescas, originais, mas não necessariamente engraçadas. A mulher do meu irmão riu, como de costume, do gracejo sem graça. Na outra ponta da mesa, uma moça casada há poucos anos cochichou: “Ela ainda se diverte com as piadas dele! Isso é que é amor... Eu não consigo mais rir das piadas do meu marido”.
Pouco depois, soubemos que a moça se divorciara. Muitos anos depois, meu irmão e minha cunhada seguem casados e ela ainda ri das anedotas inventadas por ele.
Naquele dia, a minha ex-prima percebeu o sintoma (encarar com bom humor os gracejos do companheiro) e intuiu os sentimentos por trás dele. Rir das piadas sem graça revela um encantamento que geralmente relacionamos com a paixão, já que os apaixonados acham tudo lindo naquele que lhes provocou o encantamento. É mais que isso, claro.
Estão lá, implícitas na reação simpática, a cumplicidade e a intimidade que juntas parecem dizer: eu ouço mais do que a piada em si, eu enxergo um mundo enorme em você, um mundo que eu amo e respeito.
Há casos em que a conexão se torna fraternal, o que significa que o afeto se converte em algo maior
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Quando consegue ficar quieta, o que é raro, a cadelinha fixa em mim seus grandes olhos redondos. Há inocência naquelas esferas castanhas, uma ausência total de malícia. Talvez a fisiologia dos cães não permita que expressem muitas emoções e isso nos induza a pensar que são seres puros, capazes de nos adorar com aquele fervor com que os devotos adoram os santos. Não tenho dúvida de que o homem pode amar o cão, mas será que o cão ama o homem? Será que Maninha tem por mim algum sentimento equivalente ao amor humano ou está só esperando pela ração?
Ao notar como me olha, penso que ela tem uma grande estima por mim. Talvez seja tolice, mas suponho que me adora e faço um carinho na cabeça orelhuda. Olhar nos olhos do nosso cachorro é fazer contato direto com uma forma de amor tranquila e permanente.
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Penso nos amigos e no que eles significam. A nossa vida não gira em torno dos amigos. Nos aproximamos e nos afastamos deles ao longo do tempo, às vezes em um distanciamento que não tem mais volta. E, ainda assim, os amigos são uma boia salva-vidas contra o tédio, a repetição, o ensimesmar-se. Temos mais liberdade com os amigos porque eles não estão sempre conosco. Temos menos responsabilidades em relação a eles. É um relacionamento baseado na convivência que acontece quando as duas partes querem. É ocasional. Um convívio que está sempre relacionado ao prazer. Se não é por prazer, por que forçar o encontro?
Por tudo isso me pergunto o que há de amor nas amizades. Na maioria dos casos, acho que nada. A amizade é uma conveniência civilizada.
Há exceções. Há casos em que a conexão se torna fraternal, o que significa que o afeto se converte em algo maior. Não é o tempo que faz isso. Não sei o que é. Deve vir de alguma afinidade profunda. É amor? Não sei.
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