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As religiosas matriarcas da família Walton, a mãe (Olívia) e a avó (Esther), não iam gostar de saber. Os homens da família, John e o vovô Zeb, que torciam o nariz para as religiões organizadas, me apoiariam. O caso é que, quando criança, o meu gosto por assistir aos episódios de A Família Walton, que eram exibidos no sábado à tarde, tornava a ida à missa das 15 h um sofrimento. A paróquia exigia que nós, alunos da catequese, assistíssemos àquela missa. Como eu era mais obediente até que as irmãs do John Boy, provavelmente não faltava ao compromisso, mas muitos episódios foram vistos pela metade.

Em parte é por isso que há uma sensação de novidade quando revejo A Família Walton, em umas gravações domésticas feitas por alguém sem muita destreza e que foram parar nas mãos do meu irmão. Minha curiosidade, inicialmente, era só ouvir o "boa noite, John Boy", que dava início a uma cadeia de comprimentos de toda a grande família (avós, pais e sete filhos). Quem viu alguma vez há de lembrar: os Waltons tinham o hábito de, cada um na sua cama, dar um boa-noite para todos os outros membros da família. Acho que era uma forma de registrarem que, naquela casa, ninguém esquecia ninguém.

Todo episódio acaba com o "boa-noite", mas às vezes só alguns personagens se cumprimentam. Foi a única decepção que tive com a experiência de rever o seriado dos anos 70. Fora isso, sou só entusiasmo. Até o galãzinho John Boy, que na infância eu considerava um chato de galochas, agora me parece mais humano e simpático. Está sempre às voltas com namoricos que não podem progredir porque ele é muito novo (e estamos falando de uma série ambientada nos anos 30), responsável (a família tenta sobreviver em meio à depressão econômica) e sonha em ir para a faculdade e viajar pelo mundo. Os namoros de John Boy, aliás, são relatados com uma ironia discreta, que explica porque o seriado fazia sucesso com adultos e crianças. Em uma das histórias, ele e a namorada se declaram profundamente apaixonados e revelam seus maiores sonhos. O dele é viajar por ilhas exóticas da Ásia; o dela, ser dona de casa e cuidar dos filhos. E os dois se abraçam entusiasmados, sem se dar conta de que têm planos incompatíveis. O amor é lindo! – parece ironizar o roteirista, nas entrelinhas.

O único problema de ressuscitar os Waltons é a conta que vou pagar para reencontrar John Boy. Depois de assistir a alguns episódios naquelas gravações toscas, que devem ter sido feitas por um pioneiro do videocassete de duas cabeças, corri para a Amazon buscar uma cópia melhor. Como costuma acontecer em se tratando da cornucópia Amazon, achei isso e muito mais. Acabei comprando também o filme The Spencer’s Mountain, com Henry Fonda e Maureen O’Hara, de 1963, baseado no livro que deu origem à série, e Um Conto de Natal, o primeiro filme para a tevê baseado no mesmo livro de Earl Hamner Jr. Tudo isso e mais uma caixa com a primeira temporada da série vão me custar US$ 34 – valor bem razoável, o leitor há de convir – e mais correio e um tanto de taxas que o governo brasileiro vai me cobrar. E como uma coisa leva à outra, achei outras preciosidades na livraria, que pesarão no meu cartão de crédito, mas me farão mais feliz.

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