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Marleth Silva

Curitiba, a feinha

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Há algumas cidades lindas. E há todas as outras cidades, mais ou menos bonitas, mais ou menos feias. Observada a partir do local em que me encontro, o Centro, Curitiba é feinha. Há o chamado Centro Histórico, que é bonito, mesmo nas travessas mais abandonadas. Fora disso, vejo uma sequência de vias sem atrativos.

Há dois elementos que determinam a aparência de uma cidade: a geografia e a intervenção humana. A geografia não favorece Curitiba com uma costa recortada, um rio largo ou colinas. Mas também não cria problemas para a cidade e seus moradores. Não dá para reclamar da geografia de Curitiba. Já a intervenção humana, essa deixa a desejar nos dois aspectos que podem enfear ou enfeitar uma cidade: a arquitetura e o ajardinamento. A arquitetura usada em Curitiba nas últimas décadas (eu me arriscaria a dizer que desde os anos 1970) é chata, quadrada. Feia mesmo. Herda­­mos belas construções do fim do século 19 e das primeiras décadas do século 20. Mas quando Curitiba ficou "moderna" (e não estou falando dos modernistas, que estes faziam coisas interessantes), despontaram dos canteiros de obras construções sem personalidade, sem charme, monolíticas. Observe ao circular por uma dessas avenidas com muitos prédios – quase não se veem curvas ou recortes em nossos prédios, altos ou baixos.

Pense em uma rua de Curitiba que você acha bonita. Ela tem árvores nos canteiros das calçadas, não tem? As árvores enfeitam as ruas. Árvores fazem muita diferença. Eu penso em várias ruas do Centro que acho feias. Elas não têm árvores.

Comento com amigos meu espanto diante de calçadas peladas. Será que a prefeitura não vê a diferença que faz uma árvore na paisagem urbana? Um amigo me dá sua opinião. Segundo ele, os prefeitos não querem plantar árvores porque elas demoram para crescer. Ou seja, a cidade vai ficar mais bonita na administração de outro prefeito. Se esse raciocínio de meu amigo estiver certo, os prefeitos merecem ser enterrados vivos em um canteiro central. Sobre a terra ainda remexida eu colocaria a lápide: "Aqui jaz um egoísta."

No caso específico do Centro de Curitiba, há que se levar em conta que a região parou no tempo. O mercado imobiliário comemorou quando dois novos edifícios foram construídos na vizinhança da Praça Osório. Eram as primeiras obras em 20 anos. O que se viu por aqui durante todo esse tempo é um conjunto irregular de edificações de épocas diferentes, um prédio alto aqui e outro acolá. E, no meio deles, construções tímidas e sem estilo. Não é nem um bairro moderno nem uma região histórica preservada. O Jaime Lerner batia na tecla de que o Centro tem de ter vida e fez obras para levar as pessoas a circular, caso dos cinemas (Cinemateca, Groff, Ritz e Luz). Foi uma boa tentativa seguida pela aridez da falta de ideias.

Agora que os feios cabos elétricos e telefones tendem a desaparecer enterrados no chão (eles eram desculpa para não se plantar árvores que cresceriam e "atrapalhariam"), há outro inimigo público a ser combatido e que justificará o não plantio. Os congestionamentos precisam ser reduzidos e uma solução sempre lembrada é a eliminação de canteiros centrais para tornar as vias mais largas. Pelo jeito nunca realizarei meu sonho de ver a Visconde de Guarapuava transformada em uma Park Avenue, avenida chique de Nova York, com seu canteiro central arborizado e florido. Há mais chances de que se torne uma pista de corrida.

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