A internet faz hoje o papel que um dia foi da revista Seleções da The Readers Digest. Reúne sites e blogs que contam histórias edificantes e dão conselhos disfarçados de listas do tipo "as melhores dicas para controlar suas finanças" ou "dez coisas que talvez você não saiba sobre sexo, mas ainda tem tempo de aprender".
Há algo em comum entre as histórias edificantes, geralmente de pessoas que venceram um conflito usando apenas o bom senso, e as listas de dicas: ambas nos convencem de que o caos pode ser domado. Não é à toa que a Seleções, que chegou a vender milhões de exemplares, se apoiasse nesta dupla. O caos é um monstro insidioso que nos dá a sensação de vertigem: coisas demais para fazer, tarefas que se acumulam, pessoas que não colaboram conosco, compromissos que esquecemos, contas a pagar, maldades. Tudo isso gera a sensação de caos.
E como domar o caos? Que tal fazendo uma lista de medidas práticas e simples para dar conta de cada uma das tais tarefas ou para se proteger das maldades do mundo?
Essa é a linha da maioria das listas de dica que encontrei em uma busca rápida pela internet. Algumas, muito inspiradoras. Em uma delas há os seguintes "mandamentos": "Não trabalhe em empresas que consomem muitas horas em reuniões" e "reduza uma hora diária de sua jornada de trabalho". Serve para você?
Outra lista, publicada em um blog, vem com um título provocador: Improdutividade: Oito formas fabulosas de aproveitar ao máximo seus dias mais preguiçosos. Veja a ironia: o autor usa todo o jargão corporativo "aproveitar ao máximo" para falar em preguiça. E não é para condená-la à extinção, mas para nos ajudar a conviver com ela. Aliás, alguém acredita que dá para acabar com a preguiça?
O blogueiro recomenda àqueles que estão em um dia de lerdeza começar pela tarefa mais temida, por aquela que se está adiando há mais tempo um tratamento de choque para a preguiça. Também sugere que ouça música para se animar, daquelas que dão vontade de chacoalhar os ossos, na linha de Cant Buy Me Love, dos Beatles, ou Son of a Preacher Man (tem uma versão da Tina Turner que recomendo se a intenção é fazer o corpo levantar do sofá). Abrasileirando a lista, eu incluiria algo de Tim Maia (Não Quero Dinheiro, talvez a mensagem combina com o tema preguiça) ou Jorge Benjor (Mas que Nada o que o leitor acha?).
Uma prima, quando tinha que fazer faxina, colocava um disco tocando a Marselhesa. Pra ela funcionava...
As listas de "como fazer..." abundam em sites estrangeiros e são bem menos numerosos em endereços brasileiros. Minha teoria é que brasileiro é menos ligado na praticidade, na vontade de simplificar a vida. É prolixo, supõe-se criativo e esperto para arranjar soluções de última hora. E tem as empregadas domésticas e faxineiras que ainda estão por aí para apagar os incêndios. Quando elas desaparecerem, como dizem que está para acontecer, aí vamos precisar de muita listinha para não sucumbir à bagunça.
Deixe sua opinião