Os sinais estão aí. A natureza se colocando em alerta para mudar de estação. O ar mais fresco. A folhagem movendo-se com a brisa. Os ramos das duas araucárias que vejo pela janela balançando constantemente, lindos como sempre.
Foi um verão passado atrás das telas colocadas nas janelas para manter os mosquitos do lado de lá. No verão anterior, as butucas fizeram um italiano que veio à minha casa parecer uma vítima das pragas do Egito depois de apenas cinco minutos no jardim. Talvez seu sangue europeu não tivesse anticorpos para o veneno da butuca.
Este ano veio a dengue, o zika, o chikungunya. E as telas nas janelas e os repelentes nas tomadas.
Vieram também as lagartixas, que há muito tempo eu desejava ter como hóspedes. Elas comem aranha-marrom. Elas, e só elas, nos livram desta praga curitibana. Um dos meus filhos, inspirado por meu desejo manifestado tantas vezes, fez algumas tentativas de trazer, na marra, uma lagartixa. Não deu certo. Ficou com o rabinho do bicho na mão, enquanto o corpinho corria parede acima. Uma vez, quando era pequeno, o menino saiu do quarto do hotel onde estávamos hospedados em Antonina e não voltou mais. Era tarde da noite e fiquei preocupada. Encontrei-o sentado no chão, em frente à porta de um quarto, vigiando uma lagartixa. “Na hora que ela descer, eu pego”, anunciou. Mas não foi daquela vez.
Foi um verão passado atrás das telas colocadas nas janelas para manter os mosquitos do lado de lá
Pois este ano as lagartixas apareceram, não sei de onde nem por quê. A primeira que vi havia sido sordidamente atacada pelo nosso gato. Quase gritei de decepção diante do corpinho moribundo. Ela havia vindo, finalmente, e fora atacada. Um infortúnio.
Uma noite desta semana, me deparei com outra lagartixinha, esta bem pequena e clara. Estava em um canto da sala. Fazendo sabe o quê? Aproximando-se de uma aranha-marrom. Aleluia! A bichinha não me decepcionou. Mostrou a que veio. E o que fazer com o terrível gato amarelo, apropriadamente batizado de Tigrinho, que mantém o instinto caçador de um felino selvagem? Tentei distraí-lo, dei carinho, tranquei no quarto, ameacei, tudo para dar tempo para a lagartixinha crescer e procriar, como é de seu direito e de grande proveito para nós.
Ainda não encontrei o corpinho da lagartixa, o que me dá esperanças.
***
Não me disponho a comemorar o outono nem me despedir do verão. Nada contra um ou outro. O que me inquieta é, de novo, ele, o tempo que passa junto com as estações. Como comemorar o fim do verão se ele representa mais vida que ficou para trás?
Mais vida está lá adiante, eu poderia dizer. Tanto faz – é o copo pela metade, meio cheio ou meio vazio. Mas o tempo... Ah, o tempo! Cada dia que se vai, se vai para sempre e eu gosto dos dias, de cada um deles, por mais banal que seja.
As estações me lembram do tempo, os brinquedos tirados do quarto do filho crescido me lembram do tempo. O espelho me lembra...
Sendo assim, constato a mudança de estação e tento me concentrar na brisa, na lagartixa, no gato amarelo.
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