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A pergunta não podia soar mais esdrúxula. Veio de uma senhora que se sentou ao meu lado em um voo para o Nordeste, anos atrás:

– Você tem emplastro na sua bagagem?

Não, eu não carregava em­­plastro dentro da bagagem. Nem ela, o que a deixava muito aborrecida. O genro que a levou ao aeroporto chegou atrasado e por isso não havia dado tempo para passar na farmácia. E ela não gostava de viajar sem levar emplastro.

Com medo de não estar entendendo bem a conversa (emplastro serve para que mesmo?), perguntei timidamente se ela sempre usava emplastros. Tentei entender a história comendo pelas beiradas. Ela respondeu com seriedade:

– Em viagens, devemos sempre levar um emplastro.

Anotaram a dica, leitores?

Na linha do "me dizes... e te direi quem és", a relação do que alguém leva na mala quando viaja é das mais reveladoras. Não fui eu quem inventou isso. É quase uma verdade universal.

Quando fez um ano que Ayrton Senna morreu, a revista francesa Paris Match publicou uma reportagem sobre o piloto brasileiro que se baseava no que ele carregava dentro da mala. A revista teria tido acesso a mala com que Senna viajou para Ímola, onde morreu: uma maleta pequena e muito bem arrumadinha. Ele carregava só algumas poucas peças de roupas e uma Bíblia pequena. O conteúdo da maleta correspondia a uma leitura sutil da personalidade de Senna, supunham os editores da revista.

Outro dia, encontrei um casal carioca que havia vindo passar apenas um dia em Curitiba. Chovia, e a senhora levava um guarda-chuva. Imaginei que ela houvesse comprado aqui, às pressas. Mas ela me explicou que sempre carregava um guarda-chuva na bagagem para proteger o marido, que tem problemas respiratórios. Ah, o amor! Que torna as pessoas previdentes e as malas mais pesadas.

O que dizer de alguém que não põe pente na mala? Eu já esqueci várias vezes. Pente não está na minha lista básica. Aliás, quase nada está na minha lista. Sou da turma que viaja com mala mínima – pouca roupa, pouco calçado (que ocupa muito espaço), documento, dinheiro, caneta e papel para anotações e para se ocupar em aeroportos, um livro, filtro solar, escova de dente e... bandeide.

Volto ao ponto de partida. Aquela senhora carregava emplastro; eu levo bandeide porque uma vez machuquei o pé de tanto andar. Agora não viajo sem bandeide, apesar de nunca mais ter precisado de um. Ainda bem que não ri dela.

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