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Tem um garoto de 12 anos lá em casa que tem medo da morte. Mais precisamente, tem medo do fim da vida. Não é que ele imagine a hora da morte chegando e se desespere. Na realidade, se desespera com o passar das horas e dos dias, o que é muito mais concreto. Ele nota que seu corpo está crescendo e os de seus amigos também. Isso significa que eles estão se tornando adultos. Que a infância está acabando.

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Digo que a angústia com o tempo que passa é comum a toda humanidade – o que, naturalmente, não faz a menor diferença para ele.

Digo que o medo da morte é tão forte no ser humano, que está por trás de quase tudo que fazemos com empenho, da procriação até as obras de arte, dos vícios até a religiosidade – conversa inútil, mais uma vez.

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O menino de 12 anos vive em um mundo concreto em que o que conta é a hora de parar de brincar para ir dormir (uma pequena morte que lhe subtrai horas de diversão), o fim do feriado, a folhinha do calendário que arrancamos no fim do mês.

Além da concretude em que se baseia seu pensamento, ele não tem vivência suficiente para entender quando digo que toda a humanidade sofre do mesmo mal que ele. Nem para perceber que cada um lida com esse medo de uma forma própria. Por exemplo: fazendo o possível para não se lembrar dele.

Contei-lhe uma frase que li outro dia em um texto da editora Julia Moritz Schwarcz na revista Lola. Depois de relatar a morte de uma tia e as cerimônias fúnebres judaicas que se seguiram, ela diz: "Viver é esquecer, todo dia, da existência da morte".

É isso mesmo, Julia. Queria tanto que meu pequeno de 12 anos entendesse isso e começasse a treinar sua capacidade de esquecer um pouco da morte.

Tenho para mim que o medo da morte é também um medo da vida – medo de vivê-la mal, de desperdiçá-la, das surpresas desagradáveis que ela traz.

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Algumas pessoas que nasceram e cresceram bem protegidas não vivem assombradas pelos fantasmas das tragédias inesperadas e talvez consigam carregar a ingenuidade, a confiança permanente na boa vida. Para esses, talvez, a morte seja a mais longínqua abstração. Não têm medo da vida porque confiam nela.

Mas a partir do momento em que, por uma razão ou por outra, o véu cai... Aí o medo se instala e não se vai mais. Para não sofrer com ele todos os dias, só esquecendo-se dele. Todos os dias.