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Acabando de lavrar o flagrante de dois presos por tráfico de drogas, sendo que um deles tem um filho de 6 anos, o qual, ao tomar conhecimento da prisão do pai, caiu em prantos e me perguntava constantemente “tio, quem vai me levar para a escola?”, “tio, quando meu pai vai poder morar comigo para sempre de novo?”. Ouvindo essas indagações, mesmo após alguns anos como delegado e mesmo sabendo que todo o sofrimento enfrentado por aquela criança tinha como culpado o pai dela, meu coração ficou apertado.

Confesso que nunca senti tanta pena de alguém como senti hoje. O doce L. me fez prometer (inclusive tocando os dedos mindinhos) que ninguém faria mal para o seu pai e me pediu, chorando, para falar com o pai antes que ele fosse levado preso.

Cumpri a promessa que fiz ao L., deixei-o trocar algumas palavras com seu pai, e era visível todo o amor que aquela criança sentia.

Crianças como o L. não merecem passar por esse sofrimento. Nenhuma criança merece

Fiz um tour com L. por toda a delegacia, meu objetivo era acalmar aquela pobre criança... definitivamente crianças como o L. não merecem passar por esse sofrimento. Nenhuma criança merece.

Hoje vou dormir com a sensação de dever cumprido, de ter tirado das ruas um cidadão que, com a venda de entorpecentes, com certeza destruiu diversas famílias. No entanto, vou dormir triste também pois sei que nesse momento L. possivelmente está chorando a ausência do pai e ele não tem culpa desse sofrimento.

Como falei para ele, “um policial sempre cumpre sua promessa”. Se o pai dele vai cumprir alguma das que fez ao filho, isso eu não sei.

(Este texto reproduz quase integralmente o relato feito pelo delegado Rodrigo Souza em sua página particular)

No Facebook do veterinário

Esta semana foi parada por causa das festas de fim de ano. Mas não é que, na última hora, o ano de 2016 ainda me deu o que pensar? Agora há pouco saiu do consultório um casal de aposentados que trouxe a cachorrinha para eu examinar. Era uma vira-lata muito velha, com muitos problemas. Veio nos braços da mulher, que me entregou a cachorrinha na recepção. Entrei no consultório e, quando a coloquei na maca, notei que estava morrendo. Fiz o que devia ser feito, mas não teve jeito. O casal não tinha entrado, ficou esperando ser chamado. Quando fui atrás deles, encontrei primeiro a esposa. Ela me pediu para dar a notícia ao marido, que era muito apegado à cachorrinha. Tá bom – pensei –, nada de mais. Então vi o homem parado em frente ao bebedouro, enxugando as lágrimas. Já estava chorando e nem sabia que a cachorrinha tinha morrido! Respirei fundo. Olhei de novo para a esposa, na esperança de que ela decidisse assumir a tarefa. Só vi angústia nos olhos dela. Fui lá e dei a notícia. Trocamos algumas palavras. A esposa se aproximou, pegou no braço do marido e foi levando-o para fora. Fiquei olhando os dois. No estacionamento, ele entregou a chave do carro para ela, que saiu dirigindo.

Sabem o que me comoveu? Não foi a morte da cachorrinha, coisa normal para mim, ainda mais sabendo que ela já era muito idosa. Não foi o sofrimento do dono, que é até bem comum porque os animais são grandes amigos mesmo. Foi aquela esposa ali, cuidando do marido com tanto carinho em um momento de fragilidade dele, respeitando a dor dele e sofrendo por vê-lo sofrer.

Vi o amor ali, na minha frente, em carne em osso.

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