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Corre pelo mundo uma cren­­ça de que o Brasil fi­­nalmente engatou a marcha correta, depois de passar anos intercalando o ponto morto com a marcha ré. O que di­­zem os jornais estrangeiros é surpreendente. Para citar um só, o in­­glês Financial Times, viramos potência mundial. Na verdade, eles estão expressando uma ex­­pec­­tativa que sempre existiu: países com território gigante e ricos em recursos naturais, como Bra­­sil, China, Rússia e Índia são, por natureza, potências. Porque têm potencial para serem ricos. Por­­que têm mercados maiores que os dos vizinhos. Porque seus grandes territórios podem produzir mais alimentos. Se não são ricos ou se têm muitos problemas so­­ciais é por falha humana. Ou, em uma visão mais generosa, é questão de tempo.Em mim, o otimismo em relação ao Brasil causa desconforto, medo de mais uma desilusão. A vontade de que o progresso venha é enorme, mas a desconfiança também é. Mergulhada que estou na experiência de toda uma vida presenciando recuos e progressos vacilantes, tenho dificuldade para enxergar o que os otimistas estão enxergando. Alguns co­­mentários que ouço aqui e ali me ajudam a entender minha própria mentalidade. Um amigo diz que, sim, o Brasil está progredindo, mas que quem desfrutará uma nova realidade são as crianças de hoje. Os que estão na faixa dos 40 ou dos 50 anos pegaram o período de semiestagnação econômica (anos 80 e 90), que marcou suas vidas. Um economista que entrevistei certa vez me disse, sobre essas mesmas gerações, que elas não alcançaram o mesmo nível de progresso econômico de seus pais. Enquanto seus pais conseguiram, através do trabalho, acumular algum patrimônio (casa própria, casa na praia ou um sítio), o máximo que os quarentões ou cinquentões de hoje fizeram foi entrar naqueles financiamentos horrendos que o Sistema Finan­­ceiro de Habitação oferecia até o começo dos anos 2000 e... não iam muito além disso. Ele se referia à classe média – quem está mais abaixo na escala econômica en­­fren­­ta uma realidade em que é muito mais difícil progredir e acumular. Houve tempo no Brasil (e foi um longo tempo...) em que a falta de perspectiva fez com que um subemprego ilegal em um país estrangeiro parecesse a melhor coisa do mundo. Foi a época dos dekasseguis, das filas nos consulados italianos, do inchaço do Little Brazil de Nova Iorque. Era hora de vasculhar os baús da nonna ou da opa em busca de documentos que abrissem as portas para uma cidadania europeia. Nossa vida era melhor no Hemisfé­­rio Norte? Pelos relatos dos que voltaram, a vida não foi melhor por lá, mas longe do apoio anestesiante da família e dos olhos críticos dos conhecidos, encaravam-se trabalhos modestos, como o de faxina e de chão de fábrica, em troca de dólares, euros ou ienes suficientes para comprar um imóvel no Brasil. A ambição não era muita, todos queriam adquirir uma casa na cidade natal ou iniciar um negócio. Ninguém tinha a ilusão de ficar milionário. A mentalidade que se consolidou naqueles anos vai levar tempo para desaparecer. Uma mentalidade assustadiça e que só alimenta ambições modestas. De­­pendendo do que acontecer nos próximos anos, poderemos ter pela frente uma geração mais otimista, que acredita no que diz o Financial Times. Potência nós so­­mos desde que éramos uma colônia de Portugal. Agora é hora de pararmos de desperdiçar tempo.

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