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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Recebo no celular uma mensagem que diz:

– Ciclana: já falei que não quero nada com você. Mas por causa dos meus filhos eu encaro até o diabo. Se teu pai é assacino (sic) eu também sou. Não adianta ligar para o presidente que ele está do meu lado. Já me avisou que você ligou.

Mensagem assustadora, convenhamos. Mas não me tirou o sono porque foi fácil concluir que não era direcionada a mim, já que o nome da destinatária não era o meu (vou chamá-la aqui de Ciclana, para não cometer indiscrições e evitar encrencas), nem estou brigando com ex-marido; meu pai não era assassino e, ainda mais importante – não sou amiga do presidente.

Aliás, será que se referiam ao Lula? Será que, mais no clima da mensagem, "presidente" é o codinome de um chefe mafioso local?

Tive vontade de enviar uma resposta para comunicar que o recado caiu nas mãos da pessoa errada. Ou para avisar o remetente que assassino se escreve com quatro esses. Ou apenas para me divertir. Bolei uma resposta em nome de Ciclana:

– Seu desgraçado, meu pai não vai sujar as mãos com você. Mas sua morte está encomendada. Nem o presidente nos deterá se você não ficar longe da nossa família.

Teria obrigatoriamente que começar com uma forma de tratamento especial, como "seu desgraçado" ou talvez "lazarento", que é mais fora de moda, mas igualmente convincente. Mas como o imbróglio envolve filhos, melhor deixar as brincadeiras de fora.

Além do mais, temo pela minha própria pele. O "assacino" poderia me localizar e tentar se vingar. Portanto, deixo o celular de lado e esqueço o assunto por dez minutos. Tempo para o amigo do presidente me ligar. Vai logo perguntando:

– Quem está falando?

Percebo o tom de suspeita. Deve ter estranhado que a voz feminina não fosse a da mãe de seus filhos. Pergunto com quem quer falar e ele diz: "Ciclana". É a deixa para eu esclarecer que ele está ligando para o número errado, que está telefonando para mim e eu não conheço a mulher que ele procura. Ele pede desculpas, mas insiste. Pergunta se eu não posso chamá-la. Mais uma vez, digo que não a conheço. Ele parece não entender.

– Esse é o telefone do pai dela, então?

Diante das negativas, desculpa-se novamente (sua voz soa calma e desconfio que esteja um pouco embaraçado com a situação). Para finalizar a ligação, se sai com esta:

– Por favor, se encontrar a Ciclana, diga que eu quero falar com ela.

Fuja, Ciclana!

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