Outro dia ouvi uma explicação para aquela sensação de que os dias se sucedem tão rapidamente que, quando nos damos conta, a semana acabou, o fim do ano chegou. A teoria do meu interlocutor é a de que nós, adultos, temos a sensação de que o tempo voa porque passamos a maior parte do tempo sem prestar atenção ao ambiente a nossa volta vamos de casa para o trabalho por caminhos conhecidos e pensando no que temos que fazer ou devaneando; escovamos os dentes e trocamos de roupa com a cabeça imersa em preocupações ou planos. Ou seja, não estamos totalmente presentes no que fazemos. Estamos aqui, mas não estamos. Esses vácuos são tempo roubado.
As crianças, para quem tudo é novidade, têm menos desses vácuos. Elas também são poupadas do susto de perceber que algo aconteceu há muitos anos na vida delas ("Faz 40 anos que me formei", "Faz 10 anos que não vejo meu tio", "Faz 15 anos que moro em Curitiba" frases sempre seguidas de um "Nossa, tudo isso..."). Por isso, para as crianças os dias passam devagar, o Natal não chega nunca; as férias, então, como parecem distantes...
A rigor, o tempo é igual para todo mundo. Mas também pode ser diferente, porque o tempo é uma abstração que só existe se for medida. Sua velocidade depende do elemento de comparação usado para mensurá-lo. Na época em que o ser humano media o tempo pela mudança das estações, pelas fases da lua, ou como alguns povos indígenas brasileiros pelas fases de procriação dos peixes, o tempo passava mais lentamente. Agora nosso parâmetro é o relógio e nosso estilo de vida independe da natureza, das estações, e até do nosso próprio ritmo corporal. Tudo é feito para não pararmos. E, de fato, não paramos: corremos.
O cientista finlandês Antti Roine diz que o tempo existe porque o mundo está sempre mudando. O tempo pararia se todo o movimento parasse, conclui Roine. Mas sem movimento nosso mundo morreria porque é o deslocamento permanente dos corpos celestes que faz do universo o que ele é. Portanto, o tempo voa porque o mundo está mudando: a mudança é a causa e o tempo é o efeito.
Nós também mudamos o tempo todo (crescemos, amadurecemos, envelhecemos) e nossa mudança nos convence de que o tempo passou. Nesse caso, nosso referencial para medir o tempo somos nós mesmos, nosso corpo, nossas conquistas e derrotas. E sendo uma referência pessoal, será diferente para cada um de nós.
A mudança contínua faz sentido porque a mente humana prefere a insegurança ao tédio. Bem, nem todos são assim, mas é a turma antitédio que faz o mundo ser o que é e leva os outros a reboque. O preço que pagamos por sermos o que somos é ver o tempo passar. É uma equação perfeita: só não nos damos conta disso por causa do nosso apego a tantas coisas que são condenadas a acabar desde o momento em que surgem: fases da vida, trabalho, encontros, projetos, vidas.
Marleth Silva é jornalista.