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A primeira vez que vi a expressão foi no livro da americana Joan Di­­dion, O Ano do Pen­­sa­­mento Mágico. O marido e a filha de Joan morreram no mesmo ano. Na confusão mental dos me­­­ses que se seguiram, ela conviveu com aqueles pensamentos malucos que nos ocorrem nessas situações: e se tudo não passasse de um sonho e nada daquilo ti­­vesse acontecido? Se ela trocasse a mensagem da secretária eletrônica gravada pelo marido, estaria apagando um pouco a lembrança dele? Ou seja, Joan Didion estava tendo os tais pensamentos mágicos. Eu não co­­nhecia a expressão e descobri-la foi co­­mo dar nome aos bois.

Outro tipo de pensamento mágico é aquele em que se supõe haver correlação entre um pensamento e um fato. Os personagens dos livros e filmes do Harry Potter evitam falar o nome de Voldemort, o bruxo poderoso e de­­votado às forças do mal. Em outras palavras, o demônio. Pro­­nunciar aquele nome seria o mesmo que permitir que ele exis­­­­­­tisse. É um pensamento má­­gico: se eu não falar o nome dele, ele não existirá. No Brasil, seguia-se o mesmo raciocínio. "Não fale o nome do ‘coisa ruim’ que se­­não ele aparece." Em algumas so­­ciedades, o pensamento mágico está ligado às palavras. Em outras, ao objeto. Planta-se em va­­so algumas mudinhas (espada-de-são-jorge, arruda, pimenteira, alecrim, comigo-ninguém-pode, manjericão e guiné) para proteger a casa e a família dos maus olhados (outro pensamento mágico) dos invejosos.

Se o mundo está repleto de exemplos como esses, que se espalham do racional universo anglo-saxão de Harry Potter até as tribos africanas mais tradicionais, é porque o pensamento má­­gico é natural no ser humano. As sociedades mais científicas e racionais tendem a abandonar os aspectos mais supersticiosos. Mas no indivíduo o pensamento mágico sempre volta. Espe­­cialmente entre os desesperados, como Joan Didion, e os apaixonados ("eu lembrei da fulana e, no minuto seguinte, recebi o e-mail dela! Como estamos co­­nec­­tados!"). Tenho para mim que é me­­lhor ter esses pensamentos e, em seguida, reconhecer a ingenuidade de­­les que evi­­tá-los totalmente. É uma forma de re­­conhe­cer o que é mais importante para nós.

Marleth Silva é jornalista.

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