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Não era fácil tomar um café em Hanói. Leio na imprensa que o Vietnã se modernizou. Deve estar diferente do que era em 1998. Não faz tanto tempo assim, eu sei. Mas naqueles dias apenas a cidade de Ho Chi Minh, a antiga Saigon, era ocidentalizada. Só lá havia mais automóveis que bicicletas, um ou outro prédio. Só lá se via vietnamitas vestindo a moda do Ocidente. No resto do país, as pessoas usavam os trajes tradicionais. As roupas das mulheres, uma longa túnica acinturada e com aberturas laterais que começam na altura dos quadris. Por baixo, uma pantalona fina e larga. Nos homens, aqueles trajes pareciam uniformes militares, mas nas mulheres eram pura elegância e sedução.

A Hanói por onde circulei tinha muitas bicicletas e poucos carros. Os poucos turistas paravam na esquina, por volta das 18 horas, para ver a multidão desordenada de ciclistas passar sem se esbarrar, sem acidentes. Parecia milagre.

Deveria ter entrando em cada um deles eles e perguntado: “coffee?” Mas escolhi muito. Vacilei

Parecia milagre também encontrar um cafezinho em um país onde os elegantes tomam chá de jasmim. Coado, expresso, tanto fazia. Eu queria café. Fim de tarde, depois de um dia de passeios, saí pela vizinhança do hotel em busca de um lugar que servisse a bebida. Todo o comércio era pequeno e modesto. Apenas lojinhas minúsculas que avançavam sobre a calçada, exibindo os produtos em caixas ou cestas. Na calçada também se vendiam as sopas que eles tomavam o dia inteiro. Nada de padaria ou algo parecido com uma lanchonete. Vários botecos ofereciam alimentos e bebidas, mas nenhum me convencia a entrar.

Deveria ter entrando em cada um deles eles e perguntado: “coffee?” Mas escolhi muito. Vacilei. Até que vi um lugar com fachada ocidental. Uma pequena fachada com vidro fumê escuro. Lá dentro vislumbrei mesinhas e um balcão. Talvez tenha sido a presença da moça atrás do balcão. Talvez tenha sido a outra moça, em trajes ocidentais, sentada à mesa. O fato é que o ambiente me pareceu mais próximo do que eu estava acostumada a ver no Brasil, mais familiar. Veja a ironia...

Entrei e perguntei à balconista se ela servia café. Ela não sorriu. De fato, mal reagiu. Mas fez que sim com a cabeça. Sentei e, enquanto esperava o café, olhei em volta. Notei, então, que algo era diferente naquele lugar. Só havia mulheres desacompanhadas, duas ou três, e todas usavam vestidos ocidentais. A moça na mesa ao lado parecia melancólica e sem energia. Ela me observava. A outra, atrás do balcão, passava o café com um ar sério. E me observava.

Depois de tanto escolher onde entrar, entrei em um bordel, ou coisa que o valha.

As vietnamitas me olhavam para entender a minha presença ali. Quais seriam as minhas intenções? Tomar café – era essa a minha santa intenção. Mas fiz a escolha mais desastrada e ainda demorei para entender o que significava aquele ambiente ocidental em uma cidade que se mantinha lindamente oriental. O que parecia familiar aos meus olhos, como o vidro fumê e os vestidos, era chamariz para a clientela masculina. Eu estava no que devia ser, aos olhos da população local, um exótico rendez-vous, uma zona disfarçada de bar ocidental. Tomei a bebida e me mandei. O café? Uma porcaria.

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