A última vez que um presidente dos EUA ficou no poder por "três mandatos" foi de 1981 a 1993. Ronald Reagan, do Partido Republicano, foi eleito, reeleito e ainda fez George H. Bush – até então vice – seu sucessor e espectro. Depois disso, Bill Clinton, do Partido Democrata, foi eleito e reeleito, mas não fez o vice, Al Gore, seu sucessor. George W. Bush, um outro "Jr" – republicano como o pai e o ídolo Reagan –, foi eleito e reeleito, mas também não teve seu candidato, John McCain, vitorioso.

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Barack Obama, já reeleito, tem trabalhado incessantemente para pelo menos equiparar-se ao ator de filmes B em Hollywood que é até hoje adorado pelos norte-americanos – não pelos seus filmes, é claro! A Reaganomics, política econômica desregulamentadora de Reagan, foi muito eficaz para recuperar o poder de compra da população dos EUA nos anos 80, mas penalizou, através do Fundo Monetário Internacional (FMI), os países latino-americanos endividados, como o Brasil, por exemplo.

Apesar dos problemas econômicos – que, de certa forma, têm na sua gênese o chamado neoliberalismo de Reagan – e das denúncias de espionagens (prática corriqueira não só pelo governo dos EUA), Obama e seus assessores parecem usar de estratégias eficientes para continuar na liderança. O acordo, não mais secreto, com o Irã do recém-eleito Hassan Rouhani foi uma "tacada de mestre". Os EUA conseguiram chegar mais perto para observar o programa nuclear iraniano e, ao mesmo tempo, reduzir os compromissos com a manutenção da monarquia cada vez mais impopular da Arábia Saudita, abalada pela "primavera árabe".

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Mas o que pode levar o sucessor de Obama a ser eleito, nas próximas eleições norte-americanas, é a articulação de um acordo de paz entre Israel e os palestinos. O momento não parece favorável. Por causa do novo pacto entre EUA e Irã, Israel diz se sentir traído por Obama. De 1979 (ano da Revolução Iraniana) para cá Israel é o alvo preferencial das críticas e ameaças do país dos aiatolás. Isso é uma verdade, mas também é mais uma desculpa para não fazer nada e deixar tudo como está.

O Likud, o partido do atual primeiro-ministro Benjamin Netanyahu (Bibi), é o partido que desde sua origem defende a preservação da "Grande Israel". Likud significa unidade, consolidação, união. Defende, portanto, que a Palestina Histórica (Judeia, Canaã, Terra Prometida) tenha a sua unidade mantida. Unidade conquistada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Nunca foi aberto a negociações com os palestinos. Na maioria dos manuais e nos sites, o partido de "Bibi" aparece como de centro-direita. Em alguns lugares, o Likud é inclusive colocado como antagonista do Kadima – que significa "avante" –, chamado nos mesmos manuais e sites de partido centrista. Foi fundado por Ariel Sharon, ao romper com o Likud um pouco antes de seu acidente vascular cerebral. Pouco antes de fundar o Kadima, Ariel Scheinermann, "o carrasco de Sabra e Chatila", supreendeu o mundo ao concretizar sua proposta, aprovada no Knesset (o parlamento israelense), de retirar da Faixa de Gaza 8 mil colonos israelenses e enviá-los à Cisjordânia.

Veja: dessas 8 mil pessoas, a maioria nasceu naquela região. Seus pais e avós foram para aquela terra a convite do próprio governo de Israel na década de 1970. Lá fizeram suas casas, suas escolas, seus hospitais, seus cemitérios... Em 2005 essa população foi expulsa pelo exército de Israel sob o argumento de que Gaza deveria ser administrada, a partir de então, apenas pelos palestinos. Foi muito triste ver pela televisão milhares de judeus sendo retirados das casas que construíram. Mas Sharon convenceu o mundo de que sua atitude fazia parte de uma estratégia de paz. Magoaria alguns judeus, claro, mas selaria a possibilidade da criação de um Estado palestino livre – com soberania e capital.

"Ele mudou!", diziam. "Não é mais partidário da ‘Grande Israel’, saiu do Likud, brigou com Bibi (ministro das Finanças à época) e até fundou seu próprio partido para estender a mão aos inimigos."

Pois é... com sua morte, no último dia 11, muitos desses comentários "polianas" foram retomados, o discurso do "homem que buscou a paz". Pera lá, será que ninguém percebeu o que realmente Sharon quis e conseguiu?! Com a expulsão dos israelenses, em 2005, os palestinos ficaram muito mais vulneráveis em Gaza. Foram cercados pelo exército de Israel. Há quem diga que Gaza é a maior prisão a céu aberto do mundo. Arik, como era chamado, fez um grande serviço aos partidários da "Grande Israel". A desocupação de Gaza resultou no seu controle absoluto – terrestre, marítimo e aéreo. E mais: acuados em Gaza e murados por Israel na Cisjordânia, sob o argumento legítimo da autodefesa contra o "terrorismo", o povo palestino votou, em fevereiro de 2006, no Hamas (grupo defensor da destruição de Israel) e fez Ismail Haniya como primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina – o "quase Estado" surgido do acordo de paz de 1993 entre Arafat e Rabin e que teve no centro da foto o presidente Bill Clinton.

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Tudo de que Obama precisa agora é estar no centro de uma foto parecida. Bibi não quer sair na foto e tem um grande argumento para isso. Como vai fazer um acordo com quem quer destruí-lo? Já que o Hamas não tem bom senso, então que se faça o acordo com Mahmoud Abbas – fundador da Fatah, ao lado de Yasser Arafat –, hoje presidente da ANP. Caso esse aperto de mãos aconteça, os ataques a Israel não vão cessar, mas, como diz Amos Oz, entregar soberania aos palestinos já reduz o problema.

Sharon facilitou muito as coisas para Bibi. Dificultou muito uma mediação para qualquer presidente dos EUA. Cabe a Obama, apesar das adversidades, realizar o sonho dos democratas de empatar com Ronald Reagan.

Bom... espero voltar nas próximas férias da Marleth. Obrigada à Gazeta do Povo e obrigada aos leitores pelo carinho!

Luciana Worms é advogada, radialista, professora e autora de Brasil século XX – Ao pé da letra da canção popular, vencedor do Prêmio Jabuti

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