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Hasek era um homem obeso e alcoólatra. Foi abandonado pela mulher e preso em um manicômio. Pois Hasek, o gordo, o louco, foi homenageado em grande estilo quando usaram seu nome para batizar um asteroide: o 2734-Hasek. Que vingança perfeita contra aqueles que menosprezaram Hasek por ele ser filho de um professor pobre, por ele ser um homem sonhador!

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Mas espere aí, não se trata de vingança. Esse pensamento mesquinho é só meu. Jaroslav Hasek está morto há quase cem anos, não vai desfrutar dessa glória e não foi por vingança que algum astrônomo (seria ele tcheco como Hasek?) batizou o asteroide. Minhas mesquinharias à parte, me pergunto o que diriam os contemporâneos do escritor lá na sua Boêmia natal diante de tamanho reconhecimento público. Aposto que teriam, sim, inveja de Hasek; batizar um astro não é para qualquer um.

Os nomes dos astros contam histórias. Cada estrela com seu nome, em cada nome a história de uma vida. Quem foi Aldebarã, quem foi Deneb? As estrelas mais brilhantes têm nomes árabes como esses porque foram as primeiras a serem estudadas e batizadas em um tempo em que os grandes astrônomos eram todos árabes. Devemos a eles, os árabes, os lindos nomes dados às mais lindas estrelas.

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Depois vieram as palavras gregas e latinas, como Beta Centauro e Epsilon Crucis. Epsilon Crucis tem um apelido: Intrometida. Ela brilha ao lado de suas irmãs que formam o Cruzeiro do Sul: a Estrela de Magalhães, a Rubídea, a Mimosa e a Pálida. Nós, aqui do Sul do planeta, vemos a Intrometida e também vemos as Três Marias: Mintaka, Alnilan e Alnitaka, que não têm apelidos.

A ciência avançou e agora não só as estrelas mais brilhantes são estudadas e ganham nomes, mas também todas aquelas que nossos olhos nunca verão. Há astros demais neste vasto mundo. Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Rubídea...

Diante da abundância de estrelas, é preciso ser prático. Na hora de batizá-las, a poesia foi substituída por uma convenção internacional que facilita a catalogação. 2734-Hasek é um nome intermediário, que tem o número, como se usa hoje, e tem o poeta, como se fazia antigamente. É um astro com nome próprio e CPF. Nos últimos anos, só restou o CPF. Na constelação de Capricórnio, a 250 anos-luz da Terra, vive a HIP-102152, uma estrela muito parecida com o Sol, só que bem mais velha. No ano passado, os astrônomos brasileiros que participaram da descoberta da HIP-102152 decidiram dar a ela um nome mais popular. Fizeram um concurso e Arangoia foi o nome escolhido. Nem árabe, nem grego nem latim. É de tupi que se trata: aran é sol e goias é igual. Igual ao sol. Bonito.

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Meu colega Mazzo me contou uma bela história. Celi, sua esposa, é uma padeira dedicada e talentosa. Mistura os grãos integrais com amor para assar pães que valem por uma refeição. Celi usa o Facebook para trocar receitas com colegas de todo o mundo. Elas chamaram a atenção de um homem que vive em Israel. Não sei se ele é israelense e – no meio dessa guerra triste – quanto menos falarmos de nacionalidades, melhor é. Vamos falar só do pão.

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O homem que mora em Israel assava pães como hobby, não como ofício. Por causa do conflito na região, a empresa em que ele trabalha fechou as portas. Sem trabalho, ele se desesperou (e quantas histórias assim estão por trás daquelas imagens que vemos na tevê de casas destruídas e pessoas em fuga?). Mas lembrou das receitas brasileiras que estava testando. Há pessoas interessadas em comprá-los. O homem do país em conflito agora está vendendo pão para sustentar sua família. E é um pão quase brasileiro.

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