Um colega diz que sou antipática. Não ligo.
Outro diz que não presto atenção em ninguém. Também não ligo.
Estou afônica e tenho de aguentar as piadinhas da única forma que me resta: em silêncio. Serão vários dias de mutismo, segundo o médico. Só assim voltarei a falar. Culpa do clima seco, disse ele.
Quer saber? Não é nenhuma desgraça ficar sem falar uma semana. Deveríamos todos ficar mudos de tempos em tempos. Digamos que, para quem já fala pouco, a prática seria recomendada a cada cinco anos. Para os tagarelas, a cada dois. Para quem almeja o desenvolvimento espiritual, a cada seis meses. O silêncio, creiam-me, ensina.
Em primeiro lugar, dá trabalho se comunicar de outra forma que não seja pela voz. É preciso escrever no papel ou no computador (muito eficiente) ou gesticular (pouco eficiente). Como dá trabalho, só comunicamos o essencial. Não vou dizer que não faço piadinha por escrito. Faço, mas são raras.
O mutismo me ensinou que falamos demais e inutilmente porque falar é fácil.
Em segundo lugar, achamos um desperdício não participar do papo furado divertido ou da piada animada que rola perto de nós. Também tenho o que dizer e por isso quero fazer algum gracejo ou contar minha história. Bobagem! Ninguém precisa participar de todos os papos e contar todas as piadas. Fico ali, mudinha, minha participação na conversa rolando na cabeça e... não abro a boca. Depois, percebo que foi bom ficar quieta. Na falta de definição melhor, eu diria que desintoxica.
Em terceiro lugar, aprendemos que brasileiro é tão tagarela, mas tão tagarela, que quando você manda um e-mail ou um bilhete avisando que está afônico e dá todos os detalhes para evitar perguntas, aparece uma meia dúzia que insiste em vir te fazer perguntas ou dar conselhos. Ou seja, quer papear!
E sabe aonde está me levando todo este silêncio que estou oferecendo ao mundo? Passo a não prestar muita atenção no diz-que-diz-que que está sempre acontecendo perto de nós. Que luxo, não ouvir todos os barulhos inúteis deste mundo.
As desvantagens? Sim, podem me achar antipática. Em todo lugar, cruzo com pessoas que me cumprimentam. Para compensar o mutismo, devolvo o olhar e dou um sorriso. Antipático que é antipático não faz isso, não é? Outra desvantagem: quando sou obrigada a sussurrar alguma coisa ou falo por distração, sinto desconforto físico. Melhor seria ficar trancada dentro de casa. (Mas isso só funcionaria se meus levados filhos estivessem trancados fora de casa...).
No mais, não tenho queixas. Estou gostando da experiência de entrar muda e sair calada.
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