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Marleth Silva

Tipo assim...

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Que título feio para uma crônica – dirá o leitor, com toda razão. "Tipo assim" é uma dupla grudenta de palavras, que se ouve toda hora. Uma muleta linguística, da mesma família do "enfim", que já esteve muito em voga e era usado para encerrar uma frase, mesmo que o raciocínio ainda estivesse pela metade. "Não gostei do filme porque... enfim." E você ficava lá, tentando compreender o que foi dito (quando na realidade não havia nada mesmo para ser compreendido) e aturando a expressão de intelectual no rosto do amigo. Porque enfim era chique, ao contrário de tipo assim, que é muito popular.

Meu filho adolescente anda falando muito "tipo assim" ou apenas "tipo". Eu me pego falando também. Dou-lhe um tapinha cada vez que ele deixa escapar um e ele faz o mesmo comigo. Achei que era um problema nosso, um vício familiar. Até me surpreender com pessoas, tipo assim cultas, intercalando suas frases com a lamentável muleta.

"Tipo assim" significa tudo e significa nada. Pode ser eliminado de todas as frases e não faz falta. Mas quem se viciou na dupla não passa sem ela. "Ele é um homem tipo assim bruto", me confidenciou a manicure sobre o novo namorado. "O livro que você quer é tipo este?", me perguntou o rapaz na livraria.

É curioso como um determinado uso de palavras se populariza, se espalha como um vírus, e depois desaparece, como se tivéssemos desenvolvido imunidade. Que desapareça eu entendo e comemoro. Quem vai lamentar o abandono da locução "a nível de..." que se usou anos atrás? Ou do "de repente"? Que descansem em paz. Ainda espero ansiosa que enterrem também o "diferenciado", que tem sido usado para qualquer coisa que se quer elogiar vagamente, imprecisamente. É lindo, sofisticado, único? Não, não é bem isso... É diferenciado!

Como a palavra adquire esse caráter viral é para mim um mistério.

Os argentinos e uruguaios têm uma muleta linguística poderosíssima, que usam a torto e direito. "Este" com a vogal final alongada e o s aspirado, quase inaudível. O "esteee" dos vizinhos parece não significar nada. É só um recurso para ganhar tempo enquanto se organiza as ideias. Mesmo assim, é parte indissociável da fala platina. Não é um modismo nem um lunfardo. Provavelmente até o papa Francisco entremeia suas homilias com o "esteee". Eles não notam que repetem a palavrinha; nós não a entendemos.

Os modismos da língua falada passam e esquecemos completamente deles. Enquanto isso não acontece, meu filho e eu vamos nos estapeando.

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