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O escritor turco Orham Pamuk inaugurou há poucos dias o seu museu particular em Istambul. Chama-se Museu da Inocência, que é o título do livro em que Pamuk conta a história de Kemal, que por amar muito uma mulher, guarda objetos que fazem lembrar dela e um dia reúne tudo em um museu. Para materializar o lugar que criou no livro, o ganhador do Nobel de literatura de 2006 se tornou ele mesmo um colecionador de objetos: grampos e fivelas de cabelo, figurinhas de jogadores de futebol, cinzeiros, fotos de pessoas e de ruas de Istambul. Enfim, objetos que não são antiguidades, que estão mais próximos de serem chamados de quinquilharias.

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Me arrisco aqui a fazer uma previsão: museus com esse gênero de objetos vão proliferar nos próximos anos e haverá público interessado neles, por mais banais e sem sentido que pareçam. Serão os museus modernos, pós-industrialização, pós-internet.

Assim como o amante apaixonado se agarra aos objetos da amada para não enlouquecer de saudades, homens e mulheres agora precisam de âncoras para não serem arrastados para muito longe pelas novidades. Tão longe que até se esqueçam de onde vieram. Instintivamente sabemos que ficamos mais frágeis quando nos distanciamos das nossas origens.

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Minha teoria sobre isso, que apresento aqui ao leitor: o mundo cotidiano, aquele que vemos quando olhamos em volta, está mudando em tal velocidade, as novidades se sucedem com tamanha rapidez, que se tem a impressão de que algo que vimos na nossa infância é, literalmente, peça digna de museu. Essa aceleração das mudanças – ou da comercialização de novidades – não é uma percepção que nasce do saudosismo. É uma característica real do capitalismo do século 21.

Por exemplo, você, leitor, e eu, nos comunicamos atrás de um produto, o jornal, que costumava ter um projeto gráfico que podia durar muitos anos. Agora se espera que a cada dois ou três anos a cara do jornal mude. O mesmo vale para a embalagem da pasta de dente, para as logomarcas usadas pelas indústrias, para os modelos de automóveis, de telefone. As embalagens são trocadas a uma velocidade que não nos permite nos acostumarmos com elas. Logo depois do costume pode vir o desinteresse. Por isso, é melhor para a indústria evitar essa acomodação do olhar do consumidor.

Talvez nasçam assim as multidões de nostálgicos, que se animam quando encontram uma garrafa de Crush, um daqueles cofrinhos que os bancos davam para as crianças, ou um telefone com disco no lugar do teclado.

Quem deu o chute inicial nessa tendência de "museificar" o passado recente foram, curiosamente, os mais jovens, usando as tecnologias. Facebook e YouTube devem parte de seu sucesso a esse saudosismo. É um tal de publicar fotos de embalagens de doces de uns 15 ou 20 anos atrás, de compartilhar imagens de programas de tevê ou comerciais que nem tão bons eram e outros flashbacks ingênuos.

O passado está logo ali, tão perto que parece que nem foi embora. Será por isso que tantas pessoas estão se tornando tão devotadas às velharias? Para fazer de conta que o tempo não passa?

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Vã ilusão, dirá você. Mas talvez traga algum consolo para essas almas modernas e fatigadas pela velocidade do mundo, que é mais rápido que seus corações.