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A partir de amanhã, em Montreal, no Canadá, um grupo de pessoas de vários países americanos debaterá uma ideia provocadora. Provocativamente inspiradora. Vão falar sobre a necessidade de mudar a economia do mundo, de pensar em um crescimento diferente – menos consumo de recursos e mais compartilhamento do que já existe para evitar o desperdício. O nome disso em inglês é degrowth, em francês, décroissance. Me ajude aqui, leitor. Que palavra usar em português? Decrescimento, acrescimento, não crescimento...

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Sem pressa com o neologismo porque a palavra não será bem-vinda nestas terras onde se fala português. A conversa por aqui tem que ir devagar para não provocar engasgos e soluços. Parece uma indecência falar em crescer menos em países como o Brasil, em que tudo o que se quer é ver a economia se expandindo para gerar empregos. Bem agora que estamos navegando uma boa maré? Agora que as pessoas na base da pirâmide social estão conseguindo comprar imóvel e até seu tão sonhado carrinho? Isso não é injustiça?

Se fosse para barrar o crescimento dos países em desenvolvimento enquanto os países ricos se recuperam e mantêm o atual padrão de vida, sim, seria uma injustiça. Mas não é disso que o povo do "decrescimento" está falando. Eles falam em mudar nosso projeto de vida, nossa ideia de progresso, em reconhecer que não podemos ser todos perdulários aproveitando tudo-de-bom-que-o-dinheiro-pode-comprar. Não dá, o preço que pagaremos é muito alto. Estamos mergulhando em um estilo de vida agressivo e vazio, gerando cidades feias e desastres naturais.

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Nem quero falar muito aqui do consumo exagerado dos recursos naturais para não afugentar os leitores que colocam esta conversa na categoria do catastrofismo. Esses leitores me interessam também. Eles podem se sentir provocados, como eu me senti, pela ideia do decrescimento. Ideia que é basicamente esta: a produção e o consumo têm que diminuir de modo a respeitar os seres humanos e os ambientes com os quais eles interagem.

Quem não tem condições básicas de saúde, conforto e educação, precisa conquistá-las. O debate não é sobre esse direito que, no Brasil, ainda estamos conquistando, mas sobre a ilusão do consumismo como elemento imprescindível para a nossa felicidade.

Os tais elementos imprescindíveis para a felicidade, se é que eles podem ser tratados de forma genérica, são aqueles que provocam sorrisos ou amargura quando se faz um balanço da vida. Sabe aquela história de "na hora da morte..."? Pois então, será que vamos dizer: "Fui feliz porque trabalhei como uma mula, troquei de carro todo ano e morei em um apartamento de 300 metros quadrados"?

Não precisamos de tanto luxo material – então por que insistir em gastar nossas vidas e nossos planetas correndo atrás dele?

Na minha visão de quem não entende de economia, alterar nossa expectativa de crescimento tem a ver com parar de criar necessidades fúteis e nos concentrarmos no que é realmente necessário e justo.

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